Homens&Pássaros

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Terça-feira, 15 / 02 / 11

Ingenuidade

Sempre fui ingênuo.

Sempre acreditei na bondade da raça humana.

Morei em São Paulo, Olinda, Recife, Santos, Ilhéus, João Pessoa - grandes cidades - e nunca tive a infelicidade de ser assaltado ou sofrer qualquer tipo de violência.

Enxergo a sociedade como um filme.

É como se fosse uma fantasia.

E violência é ficção.

Vamos dizer que fiquei folgado.

Vítima que não fui, acredito na solidariedade humana.

Acredito na bondade infinita do ser humano.

Mas o mundo não é o que eu gostaria que fosse.

Os dados da mídia desmentem o meu otimismo.

Dizem que eu tenho que tomar cuidado... que o ser humano é um animal mau, cruel... e violento.

Mas sou teimoso: saio pelas ruas de João Pessoa e não consigo enxergar isto.

Acho que não está na minha índole enxergar a maldade.

Se é que os maus trazem uma estrela na testa... ou os bons!

Segundo a mídia, amanhã posso ser vítima como qualquer um.

E dirão: se fodeu por excesso de otimismo!

Acredito que é melhor se foder com otimismo do que com pessimismo.

O sol nasce para todos.

A chuva lava as nossas almas.

A noite nos acalenta ou nos esconde da vida.

Mas se for para achar de verdade que o ser humano é mau, cruel... e violento, se for pra levar meramente pelo lado do instinto - animal que sou -, aí eu poderia dizer:

Tomem cuidado comigo!

Eu também sou mau.

Sou tão mau quanto você.

Sou capaz de foder qualquer um.

Um político, um vizinho chato, o colega de trabalho, um amigo, a minha mulher e o meu filho... aquele filho da puta que fodeu o 'Parmêra' marcando um gol aos 46 minutos do segundo tempo.

Você não conhece a minha maldade... nem a sua.

Ela está lá, escondidinha... só esperando ser provocada para sair.

Mas, felizmente, não estou falando de animais, estou falando de seres humanos.

Viver e ser humano é humano; não 'animal', como dizem hoje!

publicado por Antonio Medeiro às 16:13
Quinta-feira, 18 / 02 / 10

A ilha

Estive observando: o ser humano se evita e cada vez mais se aglomera para sobreviver.

Pense um edifício: uma ilha de gente que mal se conhece, mal se cumprimenta - individualista - que paga as mesmas contas, trabalha em lugares diferentes e convive com os mesmos problemas inerentes à convivência em grupo.

É como estar perdido numa ilha cheia de regras: isto pode, isto não pode, aquilo pode, aquilo não pode.

É uma ilha onde todos se vigiam, onde quem quebra as regras é punido de acordo com a lei das regras.

O sujeito é individualista, mas não é só; ele tem que pensar pelos outros, se conter pelos outros, fazer a vontade dos outros.

É um ser sozinho ligado ao preâmbulo da lei, fadado ao silêncio imposto, às paredes do seu habitat, à sua própria solidão.

E quando menos espera é invadido, torturado, acuado pelos quebradores de leis: os barulhentos, os malcheirosos, os folgados, os libertários das causas próprias... os que criam, mas não seguem as leis.

E o sujeito se esconde atrás da madeira da sua porta, dos tijolos da sua parede, do som da sua música, da sua televisão, ou atrás da lei, para se esconder da vida que ruge ameaçadoramente lá fora.

A ilha é a metáfora do nosso isolamento.

Odiamos ficar sozinhos, mas a convivência vertical nos leva a enxergar o horizonte deserto, porque, na ilha, a vida ou está acima ou abaixo de nós, numa pirâmide fria de rostos e almas disformes.

E nela passamos nossos dias à espera do grande navio.

O que nos levará além do horizonte azul.

O que nos revelará a vida no sentido horizontal, como ela é.

.

TõeRoberto-05:078

publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Sábado, 26 / 12 / 09

Natal

Ontem foi o dia da grande festa da hipocrisia ocidental.

Este ano estou meio cansado... meio que desiludido.

Não sei se quero falar ou escrever sobre isto.

Fui ao shopping anteontem e a história é sempre a mesma: um bando de gente meio que endoidecida, passando uns sobre os outros à procura de algo que eles não têm a menor ideia do que seja.

Mês de dezembro é um mês horrível.

É o mês onde parte de mundo se resume em comprar, a outra em vender.

Mas como disse, eu não quero falar nisto.

Não quero falar nada, este ano eu só observei.

Fiquei quieto no meu canto e assisti, em silêncio, ao espetáculo assustador de uma sociedade ensandecida pelo consumo.

O Filho de Deus é apenas um mero detalhe, uma desculpa para a grande festa do capital de giro.

Observei: os homens estão cada vez mais distantes dos seus sonhos, das suas crenças, da sua humildade, da sua pureza, da sua liberdade, da sua bondade... os homens são apenas brinquedos manipulados por mãos invisíveis.

Os homens se alimentam e alimentam o veneno do sistema capitalista, onde pessoas são apenas cifrões desenhados nos olhos dos grandes magnatas do sofrimento humano, donos do planeta.

Mas, afinal de contas, somos apenas homens e nascemos e morremos em grande escala.

E sofremos em grande escala.

E o mundo continua.

E choram por nós durante um tempo muito curto.

E depois choram por outros.

E os dezembros se repetem.

E ontem foi natal.

Não costumo me envolver com este tipo de data.

Mas muita gente acredita que é um dia pra se ter paz.

Que é um dia de muita luz.

Eu acredito que a gente deveria ter paz e muita luz todos os dias.

E ser bonzinhos todos os dias.

E pensar nos desamparados todos os dias.

E Ser Humano todos os dias.

Acabei falando mais do que queria e do que devia.

E acho que sempre vou falar.

Mas deixando de ser rabugento por um segundo -  e atrasado - um Feliz Natal para toda a humanidade e um grande abraço para todos os leitores do Homens&Pássaros.

E um grande abraço também para o meu povo longe de mim, e para o meu povo perto de mim.

Jingle bell! Jingle bell! Jingle bell!

.
TõeRoberto

publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Quinta-feira, 29 / 01 / 09

A SURDA

Textos Escolhidos

 

A história é de Minas.

Acho que por mais insignificante que seja o ser humano, alguma coisa dele fica no espaço ou... na memória de alguém.

Ficou na minha ou não estaria escrevendo sobre isso.

Madalena:

Madalena - só Madalena - era o nome da personagem.

Surda, falava pouquíssimo, além de não falar coisa com coisa.

O eterno pano na cabeça, a cabeça sempre baixa.

Em menino, e adulto também, convivi muito com ela e sei pouquíssimo de sua vida. Era daquelas pessoas que passam pela vida despercebidas. Estão ali, mas é como se não estivessem. Teimam em não existir para o mundo.

Nunca soube como seus patrões a conseguiram. Morava num quartinho no fundo da casa... despercebida.

Como louca era vista na cidade.

Andava pelas ruas resmungando. As crianças tinham medo de Madalena.

A personagem é profunda e eu sou muito raso, muito superficial para traçar um perfil mais adequado, mais justo para Madalena.

Só sei que ela ficou na minha memória apenas por uma frase que repetia a cada vez que passava por alguém, inclusive por mim, e que eu vivo repetindo pela vida afora:

"Cê num sabe o qui ti espera nu fim da vida!"

Madalena se foi. Ficou eterna comigo.

Agora vocês também já sabem:

"Cê num sabe o qui ti espera nu fim da vida!"

Assustador, não???
.
TõeRoberto-post in jampa/pb

música: Variada
publicado por Antonio Medeiro às 05:12
Segunda-feira, 20 / 10 / 08

O DESCANSO

Poemas Escolhidos

 

Porque hoje é sábado não falarei do meu tédio de hoje.

 

Falarei, sim, do meu tédio de segunda e terça-feira
do meu tédio de quarta e quinta-feira
ou, talvez, do meu tédio de sexta-feira.

 

Passarei o sábado falando do meu tédio útil da semana
esquecendo este meu tédio inútil do sábado.

 

No domingo eu ficarei calado e sonolento.

 

Não pensarei em nada, não sofrerei por nada
e calmo e entediado morrerei de tédio no silêncio da tarde.

.
(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post In Jampa/PB

música: As Time Goes By - Dave Maclean
publicado por Antonio Medeiro às 05:41
Blog de TõeRoberto

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