Há tempos atrás escrevi um poema dedicado ao meu amigo Marco Antônio Pietragalla:
Assim:
Busquei em vão
a explicação do ato.
Julguei-me vivo
por questão de medo.
Amei a morte
por mero disfarce.
Pulsei as veias
pra matar suspeitas.
Brilhei os olhos
pra fingir-me claro.
Movi os lábios
pra fazer-me lindo.
Amei o intacto
pra fugir da briga.
Forjei o enredo
do malabarista.
Subi na corda
fui um mau artista.
Como se fosse ontem.
Outro dia, o poema veio-me na memória e bateu aquela angústia destinada às perdas que acumulamos pela vida afora.
14 anos sem Marquito! É muito tempo, pensei!
Mexi daqui, mexi dali e o encontrei. Encontrei, me comuniquei e começamos a colocar as lembranças em dia.
Amigos há 27 anos, sobrevoamos por noites intermináveis a noite de São Paulo.
Intelectuais - ele, de verdade - eu, de aparecido - debatíamos nas mesas dos bares nossas visões de mundo - intelectualmente diferentes, humanamente iguais.
E vivíamos, numa época ainda romântica de São Paulo, a nossa boêmia etilicamente poética, filosoficamente ébria.
A noite cantava:
"E por falar em saudade
onde onda você
onde..."
E Marco saía com o seu 'bolsão' de couro, sua eterna calça jeans - como a minha - à procura do caminho de casa, muitas vezes batendo o dedo indicador contra o dedão, depois de uma conversa que o empolgara.
E lá ia Marco fazendo os seus zig-zags pela noite longínqua da cidade adormecida na minha memória.
Marco Antônio Pietragalla foi, na acepção da palavra, um 'Marco' em minha vida.
Foi de vital importância para mim, numa época difícil.
Foi a mão que o destino empresta.
E atravessamos décadas.
E estamos vivos! Distantes, mais vivos!
Isto emociona e grita no fundo da alma: Estamos vivos! Mais vivos do que nunca!
Parem tudo!
Pra mim hoje é dia de festa!
Uma salva de fogos.
Reencontrar um amigo é um fato extraordinário: num mundo de solitários, rei é quem tem um amigo.
Um grande abraço para o meu amigo Marco Antônio Pietragalla.
.
TõeRoberto-post in jampa/pb