Às vezes fico olhando a beleza da vida.

A perfeição que é o amanhecer e o anoitecer.

As idas e vindas das marés.

É algo pra se olhar, acompanhar infinitamente... sem pressa.

O mundo está em movimento contínuo.

É um espetáculo maravilhoso de luzes e cores.

Está ali todos os dias: é de graça e o espetáculo não se repete nunca.

E observo que tem gente que não percebe, não enxerga ou, quem sabe, não acredita nisto.

Direcionam os seus olhos, seus instintos para outras prioridades e deixam de "perder" um minuto por dia para aplaudir o milagre da vida.

Passam, indiferentes, diante de tanta beleza nas suas carruagens douradas e se postam como se aquilo não fosse com eles.

E vão, em alta velocidade, rumo ao horizonte em fogo.

Ouvem uma música, sentem na mão o poder dos cavalos mecânicos da sua máquina imbatível, pensam no escritório, no x-burguer do almoço, na fatura do cartão de crédito, naquela secretária gostosa, na chata da esposa, nos pentelhos dos filhos, no jogo do coringão, no churrasco de domingo.

E o universo, em frente deles, explode em graça e mágica, sem reprise, num ato sem precedentes.

E vão: homem e máquina desaparecem ao longe.

E eu fico aqui sentado na murada da praia, em frente deste marzão verde de João Pessoa, pensando se eu não desperdicei um tempo muito grande da minha vida com assuntos sem nenhuma importância.

Com certeza eu deveria ter acompanhado muito mais vezes as idas e vindas das marés.

Mas ainda há tempo.

Amanhã, passarei a ser um acompanhador de marés.

E criarei raízes em frente ao mar.

Experimente... não tem contraindicação!

E não tem fatura no final do mês!...

publicado por Antonio Medeiro às 09:50