Homens&Pássaros

pesquisar

 
Terça-feira, 24 / 08 / 10

O Pássaro

O Pássaro estava lá no alto, planando; pipa de menino que sonha um dia ter asas.

Majestoso, enorme, imponente; quase que parado no ar sobre a praia do Tambaú.

Observava.

Com sua magnitude me observava.

Eu também o observava.

Um acompanhava o outro: ele, com as asas; eu, com minhas raízes.

Observei que a única diferença entre mim e ele, além da sua beleza, do seu senso de liberdade e da sua leveza era a certeza de que todos os horizontes do mundo são os seus alvos.

Aqui embaixo mal vejo os horizontes e tenho a minha vida presa às questões menores que nada têm a ver com beleza, liberdade, leveza e muito menos com certeza em relação a alguma coisa.

Ele, em sua plenitude, é apenas um Pássaro; eu, na minha pequenez, sou apenas um homem... um Pássaro ao contrário.

Nasci com o dom das asas, mas os pesos da vida plantaram os meus pés no chão e as raízes nasceram.

As asas enfraqueceram e hoje construo máquinas para voar.

E íamos pela praia.

No que pensaria o Pássaro?

Creio que só me admirava tomado de profunda compaixão.

Um ser tão iluminado deve ser capaz de humana humanidade.

Eu o observava.

De repente acho que ele se cansou de mim.

Acho que percebeu que eu não valia a pena.

Voou mais baixo, me encarou e num voo rápido, rasante, disparou como uma flecha rumo ao horizonte azul do mar de João Pessoa.

Eu fiquei ali parado, frustrado, com dó de mim mesmo.

Fiquei olhando sua trajetória até que ele rasgou a parede do horizonte e desapareceu no meio da grandeza do mar.

Ali sozinho, senti como sou nada diante da grandeza infinita das criaturas aladas.

Das criaturas livres!

Dos seres maiores!

publicado por Antonio Medeiro às 08:53
Domingo, 20 / 12 / 09

O mar

Ontem à tarde, sentado diante do mar de João Pessoa - aquela cervejinha gelada - me veio à cabeça o poema "Privilégio do Mar", de Drummond.

"Neste terraço mediocremente confortável
bebemos cerveja e olhamos o mar.
Sabemos que nada nos acontecerá.

O edifício é sólido e o mundo também.

Sabemos que cada edifício abriga mil corpos
labutando em mil compartimentos iguais.
Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador
e vêm cá em cima respirar a brisa do oceano,
o que é privilégio dos edifícios.

O mundo é mesmo de cimento armado.

Certamente, se houvesse um cruzador louco,
fundeado na baía em frente da cidade,
a vida seria incerta... improvável...
Mas nas águas tranqüilas só há marinheiros fiéis
.Como a esquadra é cordial!

Podemos beber honradamente nossa cerveja."

Declamando o poema mentalmente, aconcheguei-me na cadeira, sorvi vagarosamente, aos goles, aquela maravilhosa cerveja e bati o pé no chão.

Realmente, o edifício era sólido e pessoas, com ar de cansadas, respiravam a brisa fresca do mar.

E na baía, diante de mim, no horizonte azul do mar de João Pessoa, apenas 01 ou 02 velas brancas - longe - e 01 ou 02 gaivotas - em voo calmo - ameaçavam a paz da humanidade.

Em Brasília, nada disso sabem.

Sabem apenas que o Brasil é deles e navega em águas mansas - marinheiros fidelíssimos - e esquadras cordiais.

A cerveja, não sei se Skol, desceu redonda e eu senti no peito o privilégio de estar diante do mar e de - afinal de contas - ser brasileiro, mesmo que honradamente...

O garçom, sem nada saber, me trouxe outra cerveja.

No horizonte, velas e gaivotas se fundiram e o cavalo negro da noite sobrevoou o verde mar de João Pessoa com suas asas enluaradas.

.
TõeRoberto

publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Domingo, 16 / 08 / 09

NEGÓCIOS&OPORTUNIDADES

Vende-se Perereca.

Especificações técnicas:

Estado : Seminova - falta o canino esquerdo e o molar direito necessita de reparo.

Tamanho da boca: 07 cms x 07 cms.

Histórico de escovação: religiosamente de 3 em 3 dias.

Hábitos alimentares do proprietário: muito queijo de coalho e amendoim.

Fabricada em: Fortaleza/CE.

Valor. R$ 13,50 (treze reais e cinquenta centavos).

Motivo: Falecimento do proprietário.

Maiores detalhes: contatar a família do falecido, João-Bafo-de-Bode, em JP/PB.

Aceitamos contrapropostas.

PS: Brinde: acompanha a escova de dente do falecido.

.

TõeRoberto-03:098-post in jampa/pb

música: Variada
publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Domingo, 12 / 04 / 09

LISTA

Esta é do meu amigo Mél, de Lins/SP - agora, João Pessoa/PB.

Viver é um jogo e adoramos jogos: futebol, vôlei, natação, atletismo, automobilismo, motociclismo; e jogar: baralho, dominó, xadrez, damas, montinho de açúcar, stop.

Em Lins, um jogo inusitado e... humano: A Lista.

Mórbido, sádico, nervoso... divertido.

Duas listas na parede do bar:

1ª lista: o nome, por ordem de apostas, dos frequentadores do bar, que eram indicados para morrer primeiro.

2ª lista: o nome dos frequentadores que se foram.

Todas as noites, adrenalina pura:

Fulano não apareceu: será?

Sicrano nunca faltou: já era?

Beltrano não deu notícia, e?...

Aconteceu um acidente de carro, acho...

O Zé enfartou, hoje ele...

Vibração geral dos apostadores: cerveja, risos, piadas... choros!

O ser humano não sabe, mas vive no fio da navalha.

O gestor da lista negra: o dono do bar.

Movimentava os frequentadores pelas listas de acordo com os eventos:

Morreu: pula para outra lista.

Frequentador novo: posição 09.

Novidades na saúde do frequentador 19: posição 01.

E se divertiam!

A fatalidade: o gestor, que não estava na lista negra, se foi!

Balbúrdia total dos frequentadores: churrasco, samba, foguetes, danças, choros... discursos.

A melhor morte de todas: a jamais esperada porque o gestor era o chefe da lista.

O bar fechou, A Lista foi esquecida.

Só que não sabem: ela está esquecida em alguma gaveta da cidade de Lins.

Você, antigo frequentador do bar, pode ser o próximo!

Se cuida que a coisa é feia!

Cê guenta o bicho home?
.
TõeRoberto-post in férias por aí/br

música: Variada
publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Sexta-feira, 20 / 02 / 09

O FÃ

Textos Escolhidos

 

Visão de mundo é algo particular.

Ouvi duas frases interessantes esta semana:

01) - "Quando eu morava no Brasil...".

02) - "Quando eu me mudei do Brasil...".

O autor das frases: um carioca.

Como entendi:

01) - Quando eu morava no Sudeste...

02) - Quando eu me mudei do Sudeste...

As frases me foram ditas na cidade paraibana de Monteiro, a 300 kms de João Pessoa.

Primeira vez na cidade: encantamento total. O óbvio está na cara.

Aquilo que a Globo mostra para o mundo, o Brasil, geograficamente localizado no Sudeste, não tem nada a ver com o que aqui vi.

Ou aqui não é o Brasil ou o Sudeste não é o Brasil.

São duas coisas completamente diferentes.

Aqui temos uma cidade de músicos, poetas, que têm uma linguagem própria, um ideário comum, um amor de encantamento pelas suas raízes.

Aqui temos um povo que ama... que canta a sua terra.

Um canto visceral, profundo, doído que explode do fundo da alma e canta, com paixão desmedida, a sua terra, a sua gente, as suas origens.

O Brasil sem vísceras, mostrado pela mídia dourada do Sul, não tem nada a ver com o que aqui vi.

A diferença de "quando eu morava no Brasil..." e "quando eu me mudei do Brasil..." encontrei aqui na arte da gente sensível e libertária de Monteiro.

Uma arte ainda intocada pelo toque de Midas dos barões da cultura, que aculturaram a nossa música, a nossa poesia, o nosso carnaval, o nosso folclore e as manifestações artísticas e culturais puras e simples das diversas comunidades espalhadas pelo Brasil afora.

Uma cidade como Monteiro, bem pensada por quem de direito, alçaria voos altos pelo mundo inteiro, simplesmente apresentando de maneira simples e objetiva o seu produto mais significativo: a arte de sua gente.

Turismo limpo, inteligente e seguro para o mundo e o reconhecimento da arte impoluta e maravilhosa de seu povo.

Parabéns, Monteiro!!!

Acabou de ganhar mais um fã!
.
TõeRoberto-post in jampa/pb

música: Variada
publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Terça-feira, 23 / 09 / 08

O PÔR-DO-SOL

Textos Escolhidos

 

- Ontem fui ver o pôr-do-sol da Praia do Jacaré, em Cabedelo/PB.

- Diante do espetáculo sem adjetivos, pensei: é por uma visão dessas que a gente fica com dó de morrer!

- Como é que a gente morre e nunca mais vê uma coisa dessas?

- Tenho minhas dúvidas quanto à presença de Deus no universo, mas diante do pôr-do-sol da Praia do Jacaré, confesso: balancei.

- Fiquei pensando: vai que o Cara tá me sacaneando, fingindo que não existe só pra me tirar um sarro na hora H.

- O espetáculo é único, não há visão mais apaixonante, mais reveladora do que aquilo.

- O nó na garganta é inevitável, e pensamos: graças a Deus estamos vivos!

- Não vou contar o que tem lá pra não estragar a surpresa.

- Só vendo pra crer; vá, vale a pena!
.
(Fonte: Texto – Autoria de TõeRoberto)
Post in Jampa/PB

música: Luz do Sol - Caetano Veloso
publicado por Antonio Medeiro às 04:45
Blog de TõeRoberto

Julho 2012

D
S
T
Q
Q
S
S
1
2
3
4
5
6
7
8
9
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

Comentários recentes

  • Sem palavras, silenciou e falou.Sem Palavras! Caro...
  • Caro TõeRoberto,Exceto pela parte do dedo no vidro...
  • Elimine os filtros, Primo! Não é fácil... eu que o...
  • show de bola o texto, especialmente as frases fina...
  • Olá, desculpa o meu Português não escrever bem per...

blogs SAPO


Universidade de Aveiro