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Sexta-feira, 10 / 02 / 12

À procura de Jesus

Solteirona, 38 anos, Marizilda, desde os 07 anos de idade, andava à procura de Jesus.


Ninguém sabia se ela O havia encontrado porque, com certeza, não era muito convincente nos seus discursos do dia a dia.


Mal-humorada, tensa, nervosa, irritadiça... às vezes O negava em suas preces secretas.


Poucos amigos, igreja de segunda a segunda.


Canais de tv, só os que transmitiam programas religiosos.


Livros, só a Bíblia ou similares.


Penitências, novenas - terço na mão onde estivesse.


Uma mulher de 38 anos, traços bonitos, recatada, sufocada pelo mar da fé.


Uma manhã, a fatalidade:


O sacristão da igreja da comunidade se foi - ataque cardíaco fulminante.


Choros, velório, enterro, mas a vida continua.


Foi providenciado outro sacristão.


15 dias depois, Marizilda, ao chegar à igreja, deparou com um rapazote dos seus 23 anos fazendo uma arrumação no altar.


Marizilda ficou olhando.


O rapaz era bonito - pensou -, e ficou corada.


E levava jeito no arranjo das flores, na arrumação geral do ambiente.


Ficou ali de pé.


Olhava, com curiosidade, a arte do rapaz.


Nisso, ele se vira e crava os olhos verdes - como os de Jesus - nos olhos azuis de Marizilda.


Ela corou novamente e deixou cair o terço - nervosa.


Ele se aproximou, abaixou-se, pegou o terço e entregou a Marizilda.


Ela corou novamente.


Ele se apresentou:


Sou o novo sacristão, meu nome é Jesus.


Corou 450 vezes sucessivamente, ficou tonta, o chão faltou-lhe, agarrou no encosto do banco pra não cair, e sentou-se.


Zonza, ainda ouvia a voz do rapazote:


Sou o novo sacristão, meu nome é Jesus.


Não conseguia entender o que se passava com ela.


Rezou em silêncio 09 ave-marias, 11 pais-nossos, 05 salve-rainhas e mais umas 30 orações que conhecia.


Jesus ficou ali tentando acudi-la.


E quanto mais ele pegava as mãos de Marizilda pra confortá-la, mais tonta ela ficava, mais ela rezava intimamente, menos ela entendia o que se passava com ela.


E do nada, com Jesus segurando suavemente as suas duas mãos e com os olhos verdes cravados nos seus olhos azuis, Marizilda sentiu um fogo, uma onda quente subir pelas pernas, passar pelas coxas, pelo meio das pernas, pela barriga, pelos peitos e subir para a cabeça.


Amoleceu de vez e teve um arrepio que chacoalhou seu corpo inteiro e, por um segundo, pensou estar tendo um ataque epiléptico.


E teve outro...


E outro...


E outro...


E outro...


Sem perceber, havia encontrado Jesus.


TõeRoberto

publicado por Antonio Medeiro às 18:02
Terça-feira, 07 / 12 / 10

A fita

Casado sou há mais de 20 anos.

Sabe como é que é!

Alegrias, tristezas... tristezas&alegrias.

Às vezes penso no passado.

Aquelas coisas de homem casado.

Aquelas lembranças boas, boas, boas, ruins... boas&boas&boas. 
O sol nasce, se põe; a lua nasce, se põe... e a vida vai rolando dentro da medida do possível.

É a vida de um homem casado... e também de uma mulher casada!

Outro dia fuçando numas coisas velhas - aquelas coisas do passado que você nem se lembra mais que existem - achei a fita de vídeo do meu casamento.

Nem me lembrava mais que o meu casamento tinha sido filmado.

E nunca assisti à danada da fita!

Não se assiste a uma coisa dessas!

Nem naquele momento pensei em tal coisa!

Guardei novamente a fita.

Alguns dias depois dei de cara com a bendita fita: ela estava no vídeo.

Minha mulher já tinha assistido - depois me lembrei - umas 50 vezes e assistiu de novo.

Pensei: não é justo! Vou assistir pelo menos uma vez.

Liguei o vídeo.

A fita não tinha rodado totalmente.

Estava na hora do beijo, depois da aliança.

Apertei aquela setinha de voltar com a fita sendo executada.

Qual não foi minha surpresa ao me ver desbeijando a noiva, tirando a aliança do seu dedo, saindo da igreja, dando adeus pra todo os convidados e voltando rápido para a despedida de solteiro.

Uau!!!

Desde então assisto à fita todos os dias.

Mas só de trás pra frente! .
E o momento que eu mais gosto é quando eu desbeijo a noiva, tiro a aliança do seu dedo, saio da igreja, dou adeus aos convidados e volto pra despedida de solteiro.

Final perfeito para o que seria uma tragédia.

E foi!!!

De sonho também se vive!

E se apanha!!!

publicado por Antonio Medeiro às 09:42
Terça-feira, 15 / 06 / 10

Os opostos se atraem

Evicleide, 1,55 m; Judislau, 1,80 m.

Evicleide, mulata; Judislau, branco.

Evicleide, flamenguista; Judislau, vascaíno.

Evicleide, católica; Judislau, evangélico.

Evicleide, sal; Judislau, doce.

Evicleide, cerveja; Judislau, coca-cola.

Evicleide, Só Pra Contrariar; Judislau, Gospel.

Evicleide, feijoada; Judislau, pirão de carne.

Evicleide, xote; Judislau, bolero.

Evicleide, praia; Judislau, rio.

Evicleide, buraco; judislau, dama.

Evicleide, sorriso; Judislau, cara amarrada.

Evicleide, novela; Judislau, igreja.

Evicleide, sol; Judislau, chuva.

Evicleide, calor; Judislau, frio.

Evicleide, 69; Judislau, papai-e-mamãe.

Evicleide, pt; Judislau, psdb.

Evicleide, noite; Judislau, dia.

Evicleide, magro; Judislau, cheinha.

Evicleide, conversa; Judislau, silêncio.

Evicleide, carnaval; Judislau, retiro.

Evicleide, discussão; Judislau, diálogo.

Evicleide/Judislau&Judislau/Evicleide.

Amanhã, Bodas de Ouro: 50 anos de casamento.

Os opostos se atraem: verdade absoluta.

publicado por Antonio Medeiro às 08:45
Quinta-feira, 25 / 12 / 08

É NATAL!

Textos Escolhidos

 

O natal é a festa da hipocrisia absoluta.

É a data onde as pessoas sozinhas ou em grupos, se superam na sua individualidade.

As diferenças se acentuam; os olhos das crianças pobres ficam maiores, seus desejos se multiplicam e fica bem visível o tamanho da boca do abismo que separa as classes sociais.

E tudo é muito natural!

Tudo transcorre na mais absoluta paz!

Os políticos comemoram suas vitórias.

Os corruptos contam seus metais.

A igreja pensa que cumpre sua parte.

A classe média se enche de álcool e colesterol.

Os supermercados engordam suas barrigas gordas.

Os pobres ficam com o resto da grande festa da hipocrisia.

O símbolo da festa, para a maioria dos crentes, fica em segundo plano.

O grande espetáculo é a ostentação.

As esmolas se multiplicam!

As pessoas ficam mais generosas no seu egoísmo e purgam seus pecados distribuindo migalhas aos mais necessitados.

O espetáculo é infame!

Os jornais, as revistas, as rádios e as tevês aplaudem.

Organizam a coleta da esmola em grande estilo: atores, empresários, políticos, músicos, apresentadores, cronistas, jornalistas cumprem seu papel da maneira mais vergonhosa, da maneira mais explícita.

E tudo acontece diante dos olhos do Brasil, um dos países do mundo de índole mais perversa, mais dissimulada e mais desavergonhada no que se refere à distribuição de renda.

Jingle bell! Jingle bell! Jingle bell!

É assim que escreve?

.

TõeRoberto-12:25-post in jampa/pb

música: Jingle Bells - Disney's
publicado por Antonio Medeiro às 07:10
Quarta-feira, 24 / 12 / 08

A REPRESSÃO

Textos Escolhidos

 

O assunto é complexo e vasto.

Confesso: não tenho espaço e nem cacife para me aprofundar. Vou apenas emitir o meu ponto de vista a respeito da repressão, algo que está no mundo desde os primórdios dos tempos.

Segundo o Aurélio, Repressão é: "Ato ou efeito de reprimir". E Reprimir é: "1.Sustar a ação ou movimento de; conter, reter, moderar, coibir, refrear, represar. 2.Não manifestar; ocultar, disfarçar, dissimular. 3.Violentar, oprimir, vexar, tiranizar. 4.Impedir pela ameaça ou pelo castigo, proibir. 5.Castigar, punir."

A repressão está enraizada na cultura do ser humano. Podemos enxergá-la na Inquisição, nos diversos regimes políticos, em toda a extensão da sociedade e nos grupos familiares.

É a arma mais eficaz para manter o mundo nos moldes de quem tem o poder: o repressor.

Uma escala simples:

O presidente de um país do G8 faz uma ligação e come o rabo do presidente de um país da América do Sul.

O presidente do país da América do Sul chama o ministro e solta as feras em cima dele.

O ministro chama o presidente da estatal e xinga sua mãe daquilo.

O presidente da estatal liga para o diretor e o chama de incompetente.

O diretor manda um e-mail para o superintendente e fala que ele é um veado.

O superintendente chama o gerente e chama a sua mulher de vaca.

O gerente sobe em cima da mesa do supervisor.

O supervisor demite o Zé que só entrou na história agora.

O Zé chega em casa e enfia a mão na mulher.

A mulher do Zé desce o cacete no Zezinho.

O Zezinho chuta o cachorro.

O cachorro corre atrás do gato.

O gato quer comer o rato.

O rato...

A repressão é institucionalizada no mundo: ainda existem escolas onde os professores batem e aplicam castigos nos alunos.

Países onde as mulheres são 'operadas' para não sentir prazer.

Leis que permitem que os pais dêem uns 'tapinhas' nos seus filhos para educá-los.

A polícia bate e tortura presos.

A igreja reprime comportamentos.

As empresas mantêm normas rígidas para os seus empregados.

Os casais se reprimem mutuamente e ferem constantemente o direito à individualidade de cada um.

Os regimes políticos antes reprimiam com armas, hoje utilizam métodos modernos, subliminares, de repressão. Deixam sempre no ar, ao nosso redor, aquela impressão que se eu não andar na linha eu tô ferrado: perco o emprego, a mulher, minha casa, meus filhos, o respeito e a cidadania.

E é verdade, acredite! Eles têm poder para isso.

A pior repressão de todas é a que o ser humano impõe a ele mesmo.

É ela que não permite ao homem alcançar a sua plenitude e desenvolver a sua potencialidade em todos os níveis da vida.

É ela que é mãe de todas as outras: dos tiranos, dos padres, dos policiais, dos políticos, dos negros, dos brancos, dos vermelhos, dos amarelos, dos patrões, dos empregados, dos heterossexuais, dos homossexuais, das mulheres, dos homens, das avós, dos avôs, dos pais, das mães, dos filhos...

A repressão é uma doença contagiosa transmitida de geração para geração.

Talvez o único remédio que a cure seja a educação.

Reprimir é fácil, desreprimir é muito difícil; um trabalho para diversas gerações.

Comece com o seu filho!
.
TõeRoberto-10:27-post in jampa/pb

música: Medo Da Chuva - Raul Seixas
publicado por Antonio Medeiro às 05:56
Sábado, 20 / 12 / 08

O CO-RESPONSÁVEL

Textos Escolhidos

 

O senhor é um homem muito religioso? Católico, evangélico ou outra religião? Paga seu dízimo à igreja, sempre dá esmolas e reza por um mundo melhor?

Torce, com amor, para o Corinthians, Palmeiras, Flamengo, outro time qualquer?

É assíduo consumidor de música americana, axé, dos amigos da Globo, dos pagodeiros e da Banda Calypso?

Assiste, religiosamente, aos domingos o Faustão, o Gugu, o Silvio Santos e o Fantástico?

Acompanha, com paixão, o Big Brother, o Jornal Nacional e todas as novelas da televisão?

Não faz outra coisa na vida a não ser juntar dinheiro, acumular bens e para isto faz o que for preciso fazer, não importando o quê?

Trabalha, todos os dias, de sol a sol para sustentar a sua família e pagar as contas em dia?

Apoiou, com convicção, a invasão do Iraque e o combate ao terrorismo organizado pelo governo Bush?

Sempre apoiou, com aquele orgulho tupiniquim, as safras de políticos que estão no Brasil desde 1500: ACM, Carlos Lacerda, Maluf, Jader Barbalho, Sarney, FHC, Jânio Quadros, Getúlio Vargas, Brizola, Ulisses Guimarães, Tancredo Neves e muitos outros dos quais não me lembro o nome?

Se julga um cidadão honesto, cumpridor dos seus deveres, um cidadão que mete o pau no governo, nos preços, na saúde, na educação e na falta de empregos?

É um cidadão que fica horrorizado com a crueldade hedionda do ser humano?

O senhor se sente orgulhoso de ser e fazer tudo isto que eu falei? Bom!!!

Infelizmente, tenho uma péssima notícia para dar ao senhor: apesar de toda sua boa vontade, da sua honestidade, da sua aproximação com Deus, o senhor é co-responsável por toda essa merda em que se transformou o mundo.

Sabe por quê? Porque, embora o senhor pense como um cidadão de bem, perdeu todo e qualquer contato com a verdadeira identidade de um ser humano despojado de egoísmo, de cobiça e de ganância, essas coisas que formam o caráter do cidadão moderno.

O senhor foi educado para competir, ganhar, vencer, estar por cima - ser o maioral mesmo. O que importa é o senhor. O resto é que se dane! Eu cuido da minha vida, você cuida da sua! É a lei da selva. Salve-se quem puder! Viva eu!

Devo dizer que o senhor está de parabéns: o senhor é um cidadão Socialmente, Economicamente, Religiosamente, Politicamente Correto e Globalizado.

Uma última pergunta: há quanto tempo o senhor não lê um poema? O senhor está precisando colocar um pouco de poesia na sua vida.

Experimente!
.
TõeRoberto-10:23-post in jampa/pb

música: Impossible Dream - Ray Conniff
publicado por Antonio Medeiro às 07:07
Quarta-feira, 10 / 12 / 08

A FILA

Textos Escolhidos

 

Remexendo nos meus papéis antigos deparei com uma anotação minha, de 30 anos atrás: "Escrever um conto sobre "A Fila".

Parei, pensei o porquê e me lembrei do fato.

A história:

A história se deu bem antes da anotação. Menino, em Guaranésia... 14, 15 anos (naquela época adolescente ainda era menino), a diversão, à noite, até  22 horas, era o "Foot" - nem sei se é assim que se escreve.

Explico o "Foot":

Praça grande, jardim, endereço da igreja matriz, o "Foot" consistia no seguinte: pelo passeio, as mulheres davam voltas para a esquerda, os homens para a direita.

O "Foot" era um evento social de grande importância na comunidade. Acontecia todos os dias, principalmente nos finais de semana.

Ali nasciam amizades, namoros, casamentos e, na pior das hipóteses... meninos!

Uma noite, num sábado, acho que pra fazer gracinha para as meninas, eu e mais dois amigos cismamos de andar em fila, na hora do rush do "Foot".

E começamos: 01 volta, 02 voltas... as meninas rindo.

De repente éramos 04, 08, 10...20!

A Fila cresceu rápida e começamos a serpentear por dentro da praça. Íamos e vínhamos. Íamos e vínhamos.

As pessoas, fora do "Foot", juntaram-se nas calçadas e começaram a observar.

40, 60, 80...100!

A Fila crescia. A curiosidade e o espanto das pessoas também.

A Fila, no tédio do interior, era a atração da noite.

Comentários, cochichos, aplausos, vaias... susto!

Do nada, chegou a polícia. Correria para todos os lados. A polícia queria saber quem era o dono da Fila. Ninguém sabia quem era o dono. A Fila tornara-se uma serpente e todos eram um só corpo e uma só cabeça.

Bravejaram, perguntaram, não prenderam ninguém, mas acabaram com a Fila!

Pensando na Fila, lembrei-me do personagem de Tom Hanks, Forrest Gump. Vá lá saber por que as pessoas corriam atrás do Tom Hanks e andavam atrás da Fila da minha adolescência.

Fiquei olhando aquela anotação: 1966...67 - um tempo duro de lembrar - e me fiz uma pergunta: o que era a Fila para os adultos e a polícia?

Desacato, baderna, anarquia... subversão? Mas era só uma brincadeira de meninos!

Mas acho que para uma cidadezinha daquelas, naquela época, desacato, baderna, anarquia... subversão significavam qualquer coisa fora do normal, qualquer coisa que quebrasse a rotina da comunidade e que deixasse as pessoas com medo e que, por medo, se sentissem na obrigação de comunicar qualquer fato estranho às "autoridades", para proteger o País dos comunistas que, de acordo com o governo daqueles tempos, comiam criancinhas.

A Fila, para eles, era isso!

Infelizmente, a tolice humana não tem limites!

Acho que vou escrever um conto sobre "A Fila":

Em 1964, março...
.
TõeRoberto-10:13-post in jampa/pb

música: Não Existe Pecado Ao Sul Do Equador - Chico Buarque
publicado por Antonio Medeiro às 06:32
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