Textos Escolhidos

 

Sabe quando você está absorto, vazio... ausente?

Quando você está com aquela sensação de saudade de algo longínquo, esquecido e, do nada, uma determinada música chega aos seus ouvidos.

E ela vai lhe penetrando como uma onda morna e começa a se esparramar pelas suas vísceras, pelos seus ossos, pelo coração e a pele.

E você respira fundo... fundo!!!

E uma sensação de dor e gozo toma conta de todo o seu corpo.

E você não sabe se está sofrendo ou tendo orgasmos.

E você não sabe se está angustiado ou extasiado.

Aflito ou sereno.

Dormindo ou acordado.

Sabe quando você sente a vida e a morte cantando dentro de você, circulando rápidas, quentes, aos turbilhões por dentro das suas veias.

E você não sabe se emerge ou afunda.

Se grita ou se cala.

Se bebe ou se fuma.

Se chora ou se ri.

E aquela saudade de algo profundo, perdido em você, de longe lhe acena e as imagens se embaralham e clareiam... se embaralham e clareiam, e algo dói gostoso, dolorido dentro do seu âmago sublimado.

E a música avança; é um projétil pontiagudo machucando e afagando o peito e você, de olhos fechados, sente um arrepio subir pelas pernas, pela coluna, pela barriga, pelo esôfago.

E aquele arrepio de frio, mormaço; aquele arrepio de ferida, unguento, percorre a sua alma e seus elementos mais profundos.

Aquele arrepio único!

A música se vai, você abre os olhos, respira fundo e está de volta ao mundo.

Esse é um momento mágico. Entregue-se a ele com o corpo e alma.

Não acontece todos os dias!

E entenda uma coisa: é um grande privilégio ser capaz de vivenciar esse momento. Um grande número de pessoas nunca vai senti-lo.

É preciso ser especial para viajar na eloquente sensibilidade da música.
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TõeRoberto-11:06-post in jampa/pb

música: Águas De Março - Tom Jobim&Elis Regina
publicado por Antonio Medeiro às 05:29