Homens&Pássaros

pesquisar

 
Terça-feira, 23 / 03 / 10

Carta ao meu filho

Meu filho:

Quando você começou a sair da minha vida, preparado eu estava para perder um braço, uma víscera, um pedaço do coração.

Preparado eu não estava para ficar sozinho com o meu egoísmo.

Poderia te dizer que te acompanhei na barriga.

Que te vi nascer.

Engatinhar.

Andar.

Murmurar 'pai' pela primeira vez.

Adoecer.

Crescer.

Ir pra escola.

Se tornar um moço.

Um homem.

Poderia dizer que te amo e que você é uma das coisas mais importantes da minha vida.

Que você é algo muito bom para o meu ego.

Poderia dizer que, mesmo ao te ver exercitando a tua rebeldia e teu, às vezes, difícil comportamento, ainda assim te olho com orgulho e esperança.

Como se fosse a extensão da minha vida, lá na frente... no futuro distante.

Poderia dizer que você sempre, com teu carisma e simpatia, arrebatou o coração de muitas pessoas e, principalmente, de um pai.

Que você, desde que nasceu, nasceu fadado a ser um menino, um moço, um homem de boa índole e de boas coisas.

Poderia dizer que você, embora adulto, ainda cheira ao leite materno e não passa, para mim, de um menino meio desatento no meio da selva perversa da juventude.

Que o meu sonho de te ver feliz, saudável e bem localizado, no mundo de loucos, é apenas o desespero de um pai apaixonado pelo filho.

Poderia dizer que eu, como quase todos os pais, cometi os meus erros, os meus excessos, as minhas faltas e ausências e, principalmente, longas omissões em relação ao andamento da tua vida longe do convívio de casa.

O que, de uma maneira ou outra, concorde eu ou não, acaba justificando parte das tuas atitudes, parte do caminho que você passou a caminhar em busca do que você julga importante para a tua vida.

Poderia te dizer que eu deveria ser extremamente duro com você - gritar, berrar, urrar nos teus ouvidos, te colocar numa cama de pregos - para te fazer trilhar, à força, os rumos que eu pretensiosamente julgo ser os corretos para você.

Que os meios justificam os fins e pronto!

Poderia te dizer muitas coisas, muitas palavras, elogios, críticas, confessar coisas inconfessas, te dizer que te amo mil vezes.

Que somente o amor é capaz de redirecionar vidas para os horizontes perfeitos.

Mas não vou fazer isto.

Gostaria apenas, como muitas vezes fiz, de te olhar dormindo na segurança das minhas asas, passar as mãos pelos teus cabelos, arrumar o cobertor sobre você e ficar novamente ali - feito bobo - me derretendo de orgulho por você existir, por você fazer parte da minha vida.

Gostaria apenas que você repensasse a tua vida e, como uma fênix renascida das cinzas, se envolvesse nos meus braços e ficasse em paz na convivência da tua família.

Um beijo!

Um abraço!

Obrigado por você existir!

publicado por Antonio Medeiro às 08:25
Domingo, 14 / 12 / 08

OS INVASORES

Textos Escolhidos

 

Anteontem escrevi o texto "O PERIGO", uma brincadeira com as pessoas pessimistas.

Recebi um elogio da amiga Fernanda, de São Paulo.

E recebi, do Primo Clovinel, um comentário que poderia muito bem ser a seqüência do meu texto, a partir de: "você está em casa tranqüilo, alegre, descontraído, pensando na vida, quando de repente..."

O comentário:

[Primo Clovinel] - "Home, seu minino! A rua é isso mesmo! Mas em casa é tudo tranqüilo! Tirante a família da casa em frente que resolveu adotar os netos (3) pirracentos, irmãos solteirões brigões e um filho com problemas mentais com inclinações musicais (assobia uma melodia desconhecida o tempo todo). Tirante a filha aborrecente da vizinha de baixo que, coitada, deve ter problemas auditivos pois não sabe falar a menos de 120 decibéis e faz questão de reunir sua turminha na frente da minha casa. Tirante o vizinho de cima, que tem um filho de cerca de 10 anos, aparentemente autista, que fica gritando e batendo objetos ao ser contrariado por qualquer coisa. Tirante pessoas que chamam à porta pedindo remédio pro filho com uma doença rara. Tirante o coletor de lixo que derruba o lixo do vizinho na sua porta por que ele é pão-duro e não embala seus detritos em algo seguro e decente, mas em sacolinhas de supermercado. Tirante o vendedor de plantas, de mel de não sei de onde, de panelas, de tapetes... Tirante... 16:29"

É, Primo Clovinel, numa cidade como São Paulo tirante pessoas civilizadas, educadas, conscientes, de bom senso, a vida tornou-se, realmente, um verdadeiro inferno. Não há limites para a invasão de privacidade. Pessoas fazem do fora das suas casas o seu quintal planetário.

Tirante os sons altíssimos dos carros com alto-falantes potentíssimos, dos equipamentos de sons caseiros, das tvs, dos cultos de muitas igrejas que gritam a céu aberto para o mundo inteiro escutar.

Tirante as brigas, os furadores de filas, a sujeira, os carros em cima das calçadas, os carros em fila dupla, as encheções de saco, as opiniões não solicitadas.

Tirante as piadinhas de mau gosto, as "conversinhas" fora de hora, as maledicências. Tirante todas essas coisas que são feitas no nosso quintal, na nossa cara, a vida até que é razoável, nos limites do nosso lar.

Tirante, ainda, os casos mais drásticos que incluem roubo da sua energia, da sua água, da sua tv paga, da gasolina do seu carro, a vida até que chega a ser tranqüila.

Tirante, enfim, os folgados que infernizam as nossas vidas, podemos até nos considerar pessoas otimistas e felizes, pois temos uma vantagem muito grande sobre eles: somos seres humanos civilizados, nós fazemos as nossas necessidades no banheiro, não na varanda da casa deles.

Tá dito!!!
.
TõeRoberto-10:17-post in jampa/pb

música: Uma Brasileira - Paralamas do Sucesso&Djavan
publicado por Antonio Medeiro às 06:41
Blog de TõeRoberto

Julho 2012

D
S
T
Q
Q
S
S
1
2
3
4
5
6
7
8
9
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

Comentários recentes

  • Sem palavras, silenciou e falou.Sem Palavras! Caro...
  • Caro TõeRoberto,Exceto pela parte do dedo no vidro...
  • Elimine os filtros, Primo! Não é fácil... eu que o...
  • show de bola o texto, especialmente as frases fina...
  • Olá, desculpa o meu Português não escrever bem per...

mais comentados

blogs SAPO


Universidade de Aveiro