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Sexta-feira, 14 / 10 / 11

Perdas

Ontem, olhando o mar - um barquinho a vela no horizonte desaparecendo aos poucos - longe, me bateu a dor, a dor da perda.

Perdemos coisas que amamos como perdemos barquinhos nos horizontes.

Eles se vão e nunca mais saberemos quem eram, o que pensavam, o que queriam, o que amavam, o que procuravam, aonde iam, onde queriam chegar.

Assim são as nossas perdas: se vão antes da hora, nos deixam com a sensação de vazio; a sensação de que não conversamos, não convivemos, não entregamos, não amamos o suficiente.

Fica a sensação de uma falta, o membro amputado, um buraco vazio no peito, cheio de angústia, agonia e ansiedade.

Perdemos paisagens, lugares, animais, pessoas, amigos, amores, paixões; perdemos, no fundo, um pouco de nós mesmos que se vai agarrado ao ser perdido, na esperança de com ele conviver nem que seja um segundo mais.

Já tive muitas perdas e o meu coração reclamou, doeu profundamente em nome das minhas perdas.

Eu, diante do mar, vi aquele barquinho a vela no horizonte desaparecendo e em sua vela branca vislumbrei - triste - o nome de todos aqueles que amei e perdi.

Naquele momento eu os perdi novamente quando o barquinho, na sua inexorável paz, desapareceu na parede azul do horizonte.

O coração doeu e... os olhos responderam.

Ah!, sábia e malvada vida.

publicado por Antonio Medeiro às 19:30
Quarta-feira, 13 / 01 / 10

Os meus filhos

Confesso... sou um pai de coração angustiado!

Não existe uma só madrugada que eu não acorde e não pense nos meus filhos.

Nos mais velhos, nos mais novos, nos solteiros, nos casados, nos distantes, nos pertos.

Uma angústia nada fácil de sentir... uma agonia secreta!

Empregos, esposas, maridos, escola, saúde, vícios... futuro!

Futuro num momento difícil da humanidade: incerteza, violência, doenças, carestia, isolamento, solidão... individualismo.

Projeto-os no futuro distante e fico temeroso, pesaroso... agoniado com suas vidas naquele tempo futuro.

São tão jovens!

Tão ingênuos!

Tão alimentados por esta farsa que é a promessa de que um dia vão conseguir o castelo!

O alazão de asas douradas!

Os seus filhos nos enormes jardins da esperança!

A eterna felicidade!

Eu envelheço!

Mas meus filhos serão sempre crianças!

Expostos à dureza da vida!

À maldade humana!

Às suas próprias fantasias!

Às suas próprias armadilhas!

O mundo escraviza os fortes e engole os fracos... é a lei da selva!

Quando, à noite, viajo pelos tempos futuros e os vejo, ora sorridentes, ora tristes, ora na opulência, ora na falta, lutando desesperadamente para serem felizes, por um momento de paz... o meu coração sangra.

Porque não há nada que eu possa fazer!

Primeiro, porque realmente eu não sei o que fazer para protegê-los do mundo - muita gente acha que sabe - se souberem, por favor me ensinem!

Segundo, porque eles próprios têm sua própria visão das coisas.

Eu mesmo contribuí para isto, e não há nada no mundo que os faça mudar de ideia!

E eles, sinceramente, na maioria das vezes, nem sabem que ideia é esta!

Mas não se preocupem, é só a angústia de um pai!

Às vezes pareço distante, ausente, omisso em relação aos meus filhos.

Mas é só porque, talvez, nunca prestaram muita atenção no meu coração.

É só o coração de um velho pai que sangra angustiado, em silêncio, na solidão da noite.

Chorando pelos seus filhos, junto com eles, as suas perdas e dores... coisas que ainda vão acontecer.

O amor e a paixão... por medo, às vezes são secretos.

E coração de pai, tanto quanto o de mãe, também dói!

Vou descobrindo isto aos poucos!

.
TõeRoberto

publicado por Antonio Medeiro às 05:00
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