Homens&Pássaros

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Sexta-feira, 16 / 09 / 11

O meu amigo Adriano, o Gatão

Devo ao meu amigo Gatão muito do que sou.

Abriu-me as portas do mundo.

Estudantes e futebolistas que éramos, fizemos sólida amizade.

Ele, filho de comerciantes; eu, de operários.

Crianças éramos!

E juntos quebramos velhas regras do conservador Colégio Estadual Dona Alice Autran Dourado - Guaranésia, MG; mas não vou falar disso.

E também quebramos regras das comunidades de italianos, espanhóis e portugueses que não permitiam muito abertamente a relação de amizade entre pessoas remediadas - classe média, antigamente -, e pobres - miseráveis, hoje.

A amizade sobreviveu.

Abriu-nos o espaço e fomos trabalhar em São Paulo.

Lá iniciamos nossa caminhada rumo à vida.

Ficamos desempregados, procuramos emprego a pé, trabalhamos em bancos, em serviços temporários, demos cano em ônibus, passamos fome, comemos de marmita, catamos bitucas de cigarro nas ruas, misturamos concreto, batemos lajes e começamos a curtir o nosso couro para as selas que carregaríamos pela vida afora.

Infelizmente, aos 43 anos meu amigo Gatão se foi; eu fiquei - e, anos depois, aqui estou relembrando, neste momento, as nossas dezenas de histórias.

Entrei no mundo pelas suas mãos.

E até parte do meu pseudônimo - Tõe - veio do meu amigo Gatão.

Foi a única pessoa que conheci que sempre me chamou de Tõe.

Daí o TõeRoberto, hoje.

Saudades do meu amigo Gatão.

Longos anos se passaram desde a sua partida e, hoje, me lembrei do seu sorriso - era bonachão - e ouvi a voz do menino dos nosso 15 anos.

Passa a bola, Tõe!, passa a bola!!!

Um abraço onde você estiver, amigo Gatão!

E para você a música Rock And Roll Lullaby - de B. J. Thomas que você tanta gostava.

publicado por Antonio Medeiro às 19:30
Terça-feira, 09 / 11 / 10

A classe média

A classe média é enfastiada.

Come tanto, bebe tanto que, num restaurante, olha o cardápio e não sabe o que comer.

Tá cheia de tudo.

E morre pela boca.

E carrega uma fome enrustida de não sei de quê - comida, com certeza, não é!

É uma fome específica, um tédio por ter tudo em excesso.

Excesso de comida na geladeira e no freezer.

Excesso de filmes n Sky.

Excesso de músicas na internet.

Excesso de informação.

Excesso de carros na garagem.

Excesso de celulares na família.

Excesso de vestidos.

De pares de sapatos.

De camisas.

De ternos.

De tênis.

A classe média padece de excessos.

Enchem as ruas com seus carrinhos 1000.

Os restaurantes com seus cartões de créditos.

As academias com seus corpos flácidos.

Os salões de beleza com o seu narcisismo mórbido.

Os consultórios dos terapeutas com suas neuroses e paranóias múltiplas.

Os shoppings com a sua voracidade.

As férias com a sua falsa riqueza.

A classe média é... a classe média!

Sustenta o sistema e se auto-sustenta através da sua postura escravagista - grandes salários, grandes responsabilidades, grandes distanciamentos de uma vida normal.
Grandes estresses.

Depressões.

Medo.

A classe média vive mergulhada no medo.

O emprego... o patrão é o seu 'Deus'.

Nele, o 'Deuspatrão', ele assenta toda a sua vida.

No bar, no restaurante, em casa, com os amigos, o 'Deuspatrão' é o assunto principal.

A classe média se afoga no seu próprio excesso.

E mantém de pé o sistema, com toda sua estrutura:

A mídia reacionária.

Políticos que deveriam estar encarcerados.

Músicos que deveriam só cantar no banheiro... das suas casas.

Revistas e jornais que só servem para limpar a...

Livros de qualidade duvidosa.

Religiões oportunistas.

Programas de tv para pessoas que nasceram com QI prejudicado.

A classe média é um saco.

Se afoga na sua própria merda e não sabe.

Constrói a sua própria forca e não sente.

É um animal em extinção e não percebe.

A classe média... um babaca alegre e enfastiado que carrega uma melancia pendurada no pescoço e um espanador enfiado no rabo.

E o resto é que se foda!

Relaxa e goza, meu filho!

O espanador, por enquanto, é dos pequenos! 

publicado por Antonio Medeiro às 07:57
Terça-feira, 10 / 02 / 09

CINZAS

Textos Escolhidos

 

Sabe esse negócio de: "Quando eu morrer em quero isso." "Quero aquilo." "Quero ser enterrado." "Quero ser cremado."?

Acho que o "quero ser cremado" é o campeão entre a classe média metropolitana. O interiorano quer "o quero ser enterrado", pra família não esquecer de levar flores no aniversário, comparecer em peso no dia de finados.

Nena quer ser cremada.

E quer que eu a coloque num vaso, adubando uma planta que ela ainda não decidiu qual é.

Argumentei:

Num vaso? Eu te coloco num vaso, lá fora. À noite começa a chover, eu fico com remorso de estar quentinho, na cama, e você na chuva, no frio da noite.

Nena: coloque o vaso dentro de casa!

Eu: Aí eu fico com medo! Já pensou dormir todas as noites com um morto na sala?

Nena: mas sou eu!!!

Eu: Morta!!! Morto é morto! Não importa se é a mãe, o pai, o filho, o irmão, o melhor amigo, o marido... a mulher!

Sou mineiro, caralho! Fui criado, desde o útero, ouvindo histórias de assombração.

No meu imaginário, fantasmas me observam dormir!

Fantasmas de gente que nem conheço!

Já pensou a Nena, se o vaso ficar na sala? Não vai perder a oportunidade de tirar uma casquinha, à noite. Principalmente quando ela perceber aquela morena de fechar o comércio e a igreja que eu acabei de colocar na minha cama.

Deus me livre! A planta vai secar e, no vaso, vai nascer um pé de urtiga!

Nada de vasos! Vamos jogar as cinzas ao vento. Renascer, para quem acredita, deve ser sempre uma grande surpresa.

A que paragens o vento nos levará?

Espero que a Nena renasça na forma de uma bela mangueira, a fruta de sua paixão, ou na forma da Whitney Houston que ela acha uma mulher muito atraente e charmosa.

Eu também!

Vamos aguardar os próximos 50 anos pra ver o que vai ser feito da Nena.

Isso quando ela morrer!

A bichinha tá com uma saúde de ferro.
.
TõeRoberto-post in jampa/pb

música: Variada
publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Segunda-feira, 06 / 10 / 08

CARTA A J.A

Poemas Escolhidos

 

Para José de Alcântara e José Alves (Dedé),
amigos e mestres (IN MEMORIAN)

 

Lembro-me
éramos adultos corrompidos da rua Prudente de
Morais
sem número
onde nós os abomináveis bruxos de uma sociedade
enclausurada
nos umbrais da imbecilidade
bebíamos revolucionariamente nossa cerveja
idealista
e onde
às vezes
num comovente espetáculo sem sentido
pernas desnutridas entrando porta adentro
negligenciavam nossas vidas
com seus negros olhinhos
suas tristes alminhas.
E tu dizias:
"ora bolas, meu caro, bem eles!"
para depois
sorridente
esconderes a amargura
e destroçares num gesto de raiva um famoso
verso do nosso amor:
"Mas o mundo rodando
nas patas do meu cavalo
e no sonho que fui sonhando
as visões se clareando
as visões se clareando
até que um dia acordei."

 

Cá entre nós:
as coisas não têm idade e ainda nos vêm
em tempo
como novas
para relembrar.

 

Madrugada velha - como dizíamos -
chovia o samba chorado
de um velho e desconhecido amigo qualquer.
Os dedos doloridos pelo batuque apontavam
a rua
mostrando a hora de desviver
(para nós)
e de viver para as centenas de caras
felizes(?)
que preenchiam o dia-a-dia dos sem
finalidades.

J.A vomitava na pizza dos poltrões
e declamava descaradamente
entre puritanas mocinhas da detestável classe média
'Seios', para nosso deleite total.

E o tempo declinava ante nossas mórbidas
façanhas
(conforme diziam 'certos amigos').

 

Não gostaria agora que tu lesses
criticamente esta pequena asneira
que me vem aos dedos
(não penso como o dedo, datilografo).
Haverias
se te dissesse "que meu vem aos dedos"
de me corrigires detalhadamente
com teu português de "seis cervejas"
e me dirias ter eu criado algo de espantoso
fora das minhas possibilidades
(o que é meia verdade).

 

Se nosso sonho conjunto
mais o sonho conjunto do declamante J.A
não fossem os versos e os reversos da nossa
ansiedade alcoólica
haveríamos de congratular com mil amigos
nossa primeira vitória.
Mas e a conjuntura dos botecos em que nós do
submundo civilizado
vivíamos?
Não seria o novo rótulo de uma determinada
bebida
a que nós, o povo
chamávamos ópio nosso?

 

Nesses botecos sem conjuntura
(principalmente o nosso)
nada é preciso
pois além do chato futebol
e da bela e da feia mulher
tudo se transforma num magistral cemitério
de raciocínios
no meio de onde
fizemos escorrer insatisfeitos
nossas destroçadas vidas.

 

O que fazer? - perguntávamos entre um glut outro glut.
O que fazer?
Se nós os sábios carcomidos pela
ilegitimidade das coisas
morreremos na memória adormecida dos tolos
e as formigas da madrugada
cuidarão das nossas carcaças eternizadas.

 

Mas foram bons os tempos.
Não sei as coisas deixaram a graça caída
na sarjeta das evidências
ou se fomos longe demais
em nossas escaramuças noturnas.

 

A rua Prudente de Morais continua velha e malfreqüentada.
Respira-se com dificuldade o ar de suas
ruínas cansadas.
Nada de coisas sérias.
Nada de samba na noite.
Nada de vômitos descontraídos.
Tudo é solidão: suas paredes sujas
seus homens sujos
suas rotinas sujas.
Tudo é medo nos famigerados olhos de
macedinho
(personagem de uma crônica
minha no extinto Somov).


Tudo indica que caminhamos na rua Prudente
de Morais
para os Cem Anos De Solidão da admirável
Macondo
do nosso caro amigo Márquez.

.
(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post in Jampa/PB
.

música: Disparada - Jair Rodrigues
publicado por Antonio Medeiro às 04:17
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