Homens&Pássaros

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Sexta-feira, 30 / 09 / 11

Sonhos

São tantos os sonhos
mas os preços são tantos
que aqui estou com você
nesta cidade sem nome
nesta cidade sem rosto
nestas ruas com gente
sem roupas, sem dentes, sonhos
pagando preços que vão
da orla suja do mar
ao leito seco do rio
do gosto amargo da fruta
ao cheiro podre do lixo
do fundo frio do bolso
aos tristes olhos sem brilho
do magro rosto do cão
ao feio corpo dos filhos.

Aqui estou com você
pagando tão pouco por isso
que sinto no rosto a vergonha
de por isso ficar triste
nesta cidade sem nome
nesta cidade sem rosto
nesta cidade sem sonhos
nesta cidade sem homens
nesta cidade sem vida
nesta cidade que é preço
nesta cidade que é víscera
nesta cidade sem corpo
nesta cidade agonia.
Recife/Pe

publicado por Antonio Medeiro às 15:30
Sexta-feira, 19 / 12 / 08

A XXXª CONSPIRAÇÃO

Poemas Escolhidos

 

Juro contar-te um segredo
que aprendi com a longa noite
da cidade sem vida.

 

Juro contar-te um canto
que faz todos os homens livres
todos os homens livres!

 

Juro contar-te o suficiente
para que nos tornemos
bons e inseparáveis amigos.

 

Juro contar-te o meu sonho
mais íntimo
mais tímido
para dele fazermos um segredo
de dois homens livres
que um dia tornarão a defrontar-se
com o sol da vida.

 

Com o sol da vida!
.
TõeRoberto-post in jampa/pb

música: Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores - Geraldo Vandré
publicado por Antonio Medeiro às 05:06
Terça-feira, 09 / 12 / 08

O TEMPO

Poemas Escolhidos

 

Para Eunete T.Nobre, companheira

 

Chegará um tempo, meu Deus!
que ao coração faltará
o sonho, a graça, o encanto
e tudo se acabará.

 

Será, então, esse o tempo
das nossas mãos sem afagos
dos nossos lábios sem beijos
do nosso corpo gelado.

 

Será o tempo dos lírios
nos nossos olhos plantados
perderem folha por folha
sem o úmido de uma lágrima
será o tempo dos sonhos
dos portões semicerrados
das bocas semi-abertas
das visões encarceradas.

 

Será o tempo das lutas
das nossas duras derrotas
serão os pés sem sapatos
os sentidos sem desejos
a garganta sem um grito
nossa alma sem lampejos.

 

Virão as línguas amargas
as memórias sem um selo
seremos todos silêncios
todos hirtos, de joelhos
seremos pó de carícias
violências, desesperos
um canto calado, amorfo
passeando, zombeteiro
por sobre as peles rasgadas
pela farpa dos anseios.

 

Seremos todos julgados
apontados, prisioneiros
das poucas, vagas lembranças
de um tempo que não veio
de um tempo bom, sonhado
que ficou no pesadelo.

 

Seremos todos frutos
do reflexo desse espelho
puras imagens sem vida
debatendo-se, alheios
a todo forma de sonho
esquecida por inteiro
no silêncio das esquinas
no escuro das cadeias.

 

Será, então, nesse tempo
que virão os cativeiros
dos nossos braços feridos
pernas, dentes, sobrancelhas
dos nossos gritos contidos
nas notícias dos correios
que trarão de alguma época
que não se foi e nem veio
um pouco do que pensávamos
que éramos, por desespero
nalguma cidade antiga
uma presença inteira
um riso que se casava
com os meninos arteiros
que éramos nós e os nossos
nos mirando no espelho
de um tempo que foi ausência
foi resíduo, foi um medo
de um tempo que já chegara
nas janelas, nos artelhos
e nós, meu Deus, não sentíamos
dentro da alma este gelo!

.
TõeRoberto-09:20-post in jampa/pb

música: Años - Mercedes Sosa&Fagner
publicado por Antonio Medeiro às 03:59
Quarta-feira, 12 / 11 / 08

O ELEVADOR

Textos Escolhidos

 

Nasci mineiro, mineiro me criei!

Em Minas, quando a gente entrava na escola, a sentença nos era dada logo na primeira série:"cresce, meu fio, estude bastante pra, quando crescê, ir imbora trabaiá em São Paulo!"

Mineiro crescia com esta sina.

Assim foi!

O primeiro contato de um caipira com São Paulo é assustador: buzinas, gente, estranhos, olhos ardendo, falta de educação, movimento, escada rolante, verticalidade, medo... elevadores.

Não foi diferente comigo!

A cidade me engoliu e me reeducou para ela.

Segunda-feira - 08 da manhã - hora do rush: carros, ônibus, passeios, lanchonetes, prédios, escadas, escadas rolantes, elevadores... tudo cheio de gente!

Fulltime era o nome da empresa de empregos temporários.

Endereço: Praça D. José Gaspar, nº Y - 11º andar - Centro - São Paulo.

Entro no elevador abarrotado de gente e, ingenuamente, pergunto:

Eu: passa no 11º andar?

Ascensorista: - olhou para mim, olhou para as pessoas, olhou novamente para mim - "Não, não passa! O elevador vai até o 10º andar, depois sai pela janela do prédio, pula o 11º, volta novamente pela janela, entra no 12º e aí continua até o 15º que é o último andar!"

Risos!

Fiquei vermelho e, desde então, passei a respeitar o mau humor dos paulistanos, nas segundas-feiras.

É um fato: mineiro, em São Paulo, aprendia na porrada.

Bons tempos aqueles!
.
(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in Jampa/PB

música: Sampa - Caetano Veloso
publicado por Antonio Medeiro às 05:05
Domingo, 09 / 11 / 08

O PEDIDO II

Poemas Escolhidos

 

Não rabisquem meu nome pelos muros
nem desenhem meu rosto nas fachadas
nada fiz pelos homens e seus filhos
nem cumpri o ritual dos iluminados.

 

Eu só quero que me matem e me esqueçam
numa rua qualquer desta cidade
onde um bêbado, uma noite, me encontre
e me eternize ao soltar sua gargalhada
.
.
(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post in Jampa/PB

música: Esquinas - Djavan
publicado por Antonio Medeiro às 05:42
Sábado, 04 / 10 / 08

A CIDADE

Poemas Escolhidos

 

Com seu argumento sólido & cinzento
a cidade anda.
Cospe vidro, mija acrílico
exala fumaça, caga ferro... espalha!

 

A cidade é palha:
frágil feito carinho
quebra-se toda em estalos.
Expande-se a esmo sobre corpos mortos
penetra veias esclerosadas.

 

A cidade fala:
são ruídos roucos, palavras gastas.
Procura espaço no espaço.
Não há espaço no cansaço quente
dos metais pingentes dos seus braços.

 

A cidade passa:
levanta vigas, derrete aço
aperta vidas, escurece almas.
A cidade mata com suspiros fundos
delírios mudos, o pássaro.

 

Eu passo com meu corpo lento
os pés de piche, as mãos de pano
o peito turvo, a boca amarga
os nervos tensos, a visão escrava.

 

A cidade brada: não sou nada!... nada!
Olho a praça de cimento armado
preparo os ossos... batalho!
O rato corre entre folhagens
de plástico verde desbotado.

 

Com seu argumento sólido & cinzento
a cidade ataca.
Cospe vidro, mija acrílico
exala fumaça, caga ferro... massacra!

 

A cidade baila feito fada
levanta a varinha & me empalha.
A cidade brada: não  sou nada!... nada!
Aceito, canto uma toada.
Aplausos... vaias!

 

Na tarde, a cidade escura
é minha mortalha.
Nada a impede ou atrapalha
de em mim colocar as suas garras.

.
(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post in Jampa/PB

.

música: Sampa - Caetano Veloso
publicado por Antonio Medeiro às 05:42
Blog de TõeRoberto

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