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Quarta-feira, 27 / 07 / 11

Redenção

Quando Edircristólio entrou no cinema, assustou-se.

Apertou, com força, a Bíblia que trazia embaixo do braço.

Não sabia que o filme era de sacanagem.

Entrou no cinema apenas para ficar um pouco sozinho, em silêncio.

Agora, parado no meio do corredor, apenas umas 05 pessoas na sala, Edircristólio olha para a tela.

A morena tomava banho.

A água escorria pelos cabelos, pelos lábios, pelos seios generosos, descia pelo umbigo, desaparecia no poço peludo do meio das pernas, reaparecia nas coxas, nos joelhos, nos tornozelos e nos pés.

Edircristólio não sentou, ficou ali:

Parado.

Boquiaberto.

Paralisado.

Pasmo!

A morena se contorcia, passava as mãos pelos lábios, descia para os seios, circulava os mamilos, descia pelo ventre, parava no meio das pernas, fazia movimentos, gemia, urrava, sussurrava, balbuciava, se encolhia e se enrolava toda num orgasmo sem fim.

Edircristólio apertou, com força, a Bíblia embaixo do braço.

Não se movimentou.

Uma sensação estranha no peito.

Um calor.

Não conseguia tirar os olhos da tela, não conseguia deixar de olhar a morena.

Quanto mais olhava, mais apertava a Bíblia.

De repente alguma coisa, animal incontrolável, começou a criar vida no meio das suas pernas.

Enfiou a mão no bolso e tentou disfarçar, tentou segurar dentro da cueca a vergonha que se manifestava.

38 anos, solteiro, virgem em todos os sentidos, mais da metade da vida dedicada ao Senhor.

O calor subia pelo corpo.

Não conseguia domar a fera.

Quanto mais segurava, quanto mais tentava, mais rebelde o animal ficava.

A cabeça girava.

A vista embaralhava.

Não aguentou ficar de pé.

Sentou-se, colocou a Bíblia na cadeira ao lado, e sem saber direito o que fazia - na base do instinto - pegou o pau, tirou para fora e bateu a única e maior punheta da sua vida.

E se redimiu de todos os seus pecados.

E botou em dias todos os maus pensamentos.

E, sem saber, ficou bem mais próximo do Deus que tanto o reprimira por todos estes anos.

Saiu do cinema, deixou a Bíblia em cima da cadeira, entrou no táxi e pediu para o motorista o deixar no bordel mais próximo.

E deu um sorriso de alegria.

E suspirou fundo...

E os anjos - os de verdade - bateram palmas por mais uma alma ter sido tirada das garras da ignorância.

Dos braços da repressão criminosa dos falsos profetas.

Das igrejas que renegam os dons maravilhosos com que Deus presenteou os seres humanos.

E, no cinema, a morena...

publicado por Antonio Medeiro às 13:52
Terça-feira, 21 / 12 / 10

Atitude

Aos poucos Sirenildo foi engolindo a separação.

Primeiro, jogou o veneno fora.

Em seguida, se livrou dos 05 metros de corda escondidos embaixo da cama.

Do 38 que comprou no porto.

Do vidro moído que vinha fabricando há tempos.

Dos 150 comprimidos de barbitúricos.

Da Bíblia que lia todas as noites.

5 anos sem fazer a barba; fez a barba, depois se livrou das lâminas de barbear.

Cortou o cabelo.

Comprou roupas.

Um par de sapatos.

E disse: foda-se!

Queimou o retrato de Ladyzaura, rasgou as fotografias de Sirenildo Jr e Ladynilda Maria - filhos - jogou gasolina na casa, riscou um fósforo e...

Virou as costas, deu um sorriso diferente dobrou a esquina e simplesmente... desapareceu.

Dizem que para sempre!

publicado por Antonio Medeiro às 08:56
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