João Teodoro
vai capengando
comendo banana
com a filha mais nova
Ana.
No céu prateado
há um arado
desfigurado
emperrado
que é de João.
Não ara há muito
há muito não ara
há muito tempo
um pensamento
dominou João:
A minha terra
que não é minha
atrás da serra
há muito tempo
de quem será?
João Teodoro
desenha um navio
dá um assovio
baixa a cabeça
vai capengando.
A filha Ana
come banana
como uma boba
samaritana.
No céu prateado
um foguete alado
destrói o arado
desfigurado.
Há muita tristeza
nos olhos de João
de olhos cismados
sabe que o mundo
não é mais um mundo
só submundo
(i)mundo.
João Teodoro
escava a terra
atrás da serra
vai penetrando.
São sete palmos
as mãos sangrando
vai-se acabando
ao choro dos olhos
lambuzados de banana
da filha Ana.
No céu prateado
há um arado
um foguete alado
um choro cansado
por mais um João.
.
TõeRoberto