Solteirona, 38 anos, Marizilda, desde os 07 anos de idade, andava à procura de Jesus.


Ninguém sabia se ela O havia encontrado porque, com certeza, não era muito convincente nos seus discursos do dia a dia.


Mal-humorada, tensa, nervosa, irritadiça... às vezes O negava em suas preces secretas.


Poucos amigos, igreja de segunda a segunda.


Canais de tv, só os que transmitiam programas religiosos.


Livros, só a Bíblia ou similares.


Penitências, novenas - terço na mão onde estivesse.


Uma mulher de 38 anos, traços bonitos, recatada, sufocada pelo mar da fé.


Uma manhã, a fatalidade:


O sacristão da igreja da comunidade se foi - ataque cardíaco fulminante.


Choros, velório, enterro, mas a vida continua.


Foi providenciado outro sacristão.


15 dias depois, Marizilda, ao chegar à igreja, deparou com um rapazote dos seus 23 anos fazendo uma arrumação no altar.


Marizilda ficou olhando.


O rapaz era bonito - pensou -, e ficou corada.


E levava jeito no arranjo das flores, na arrumação geral do ambiente.


Ficou ali de pé.


Olhava, com curiosidade, a arte do rapaz.


Nisso, ele se vira e crava os olhos verdes - como os de Jesus - nos olhos azuis de Marizilda.


Ela corou novamente e deixou cair o terço - nervosa.


Ele se aproximou, abaixou-se, pegou o terço e entregou a Marizilda.


Ela corou novamente.


Ele se apresentou:


Sou o novo sacristão, meu nome é Jesus.


Corou 450 vezes sucessivamente, ficou tonta, o chão faltou-lhe, agarrou no encosto do banco pra não cair, e sentou-se.


Zonza, ainda ouvia a voz do rapazote:


Sou o novo sacristão, meu nome é Jesus.


Não conseguia entender o que se passava com ela.


Rezou em silêncio 09 ave-marias, 11 pais-nossos, 05 salve-rainhas e mais umas 30 orações que conhecia.


Jesus ficou ali tentando acudi-la.


E quanto mais ele pegava as mãos de Marizilda pra confortá-la, mais tonta ela ficava, mais ela rezava intimamente, menos ela entendia o que se passava com ela.


E do nada, com Jesus segurando suavemente as suas duas mãos e com os olhos verdes cravados nos seus olhos azuis, Marizilda sentiu um fogo, uma onda quente subir pelas pernas, passar pelas coxas, pelo meio das pernas, pela barriga, pelos peitos e subir para a cabeça.


Amoleceu de vez e teve um arrepio que chacoalhou seu corpo inteiro e, por um segundo, pensou estar tendo um ataque epiléptico.


E teve outro...


E outro...


E outro...


E outro...


Sem perceber, havia encontrado Jesus.


TõeRoberto

publicado por Antonio Medeiro às 18:02