E aqui estou, 23hs, tomando uma cervejinha, beliscando um queijinho, olhando a minha sogra, uma senhora de 80 anos, deitada na rede.


Olho o seu rosto!


O que dizer?


Traços de uma mulher muito bela na juventude, ainda com os traços belos.


As marcas da vida!


80 anos de vida encravados na pele, na carne, nos ossos... nos olhos.


4 filhos, 10 netos, 4 bisnetos.


E firme!


Come bem, passeia bem, dorme bem... bem-humorada.


E eu aqui - perto dela - no alto da minha juventude, mastigando o fel de cada manhã.


Omisso diante do encantamento da minha própria vida.


Por favor, me deem uma lição!


Me enterrem num hospital de doidos!


Eu não valorizo nada do que a vida me oferece... de graça!


Saúde, inteligência, liberdade!


80 anos!


Uma anciã!


3.000kms de casa!


Viva, saliente, risonha... sobrevivente!


E eu, aqui, a 10m do meu quarto, afundado no 1/2 das areias do deserto do Saara à procura de um Oásis.


Por favor, me levem pra cama!


Que eu não sobrevivo à minha velha e ácida juventude.


TõeRoberto

publicado por Antonio Medeiro às 18:25