Manfredo desceu do trem e olhou as horas:
23:55.
Procurou, com os olhos, pela plataforma e 1/2 que ficou chateado.
Subiu a jaqueta para proteger o rosto e saiu da estação.
8 graus, apontava o termômetro.
Começou a andar.
Joselívia na cabeça, uma dorzinha chata de cabeça, a cabeça na noite escura.
Ela deveria estar na estação, pensou.
Afinal 2 anos são 2 anos!
Na seca, os demorados 2 anos... na seca!
Caminhava, a cabeça doía, e pensava naquelas coxas, naqueles peitos, naquela boca... naquela bunda!, que era o que mais gostava.
E pensava:
Ah, Joselívia, tesão da minha vida! Hoje eu te pego! 2 anos, Joselívia, 2 anos! Te ponho de 4. Te dou um trato. Te arrebento... me arrebento e até me mato... e te mato!
A noite, a cabeça... Joselívia.
Desceu a rua, e avistou a casa.
Ficou excitado... pensou naquilo, naquiloutro, naquela, naqueloutra.
Chegou à porta da casa, olhou o relógio:
00:31.
Passou a mão no meio das pernas:
Uma comichão.
Quando ia bater na porta, ouviu um ruído na casa.
Xeretou na janela, a cortina semiaberta e viu:
Joselívia de 4...
Gelou... e o gelo desceu até o meio das pernas.
A cabeça doía, Joselívia de 4... aquela bunda!
Contou até 1, enfiou o pé na porta e entrou.
A cabeça doía, Joselívia...
De 4, Joselívia fincou olhos nos olhos de Manfredo e a perplexidade tomou conta da noite... e dos corações acidentados.
E o apito triste do guarda-noturno ecoou pela cidade adormecida.
TõeRoberto