Ontem, olhando o mar - um barquinho a vela no horizonte desaparecendo aos poucos - longe, me bateu a dor, a dor da perda.

Perdemos coisas que amamos como perdemos barquinhos nos horizontes.

Eles se vão e nunca mais saberemos quem eram, o que pensavam, o que queriam, o que amavam, o que procuravam, aonde iam, onde queriam chegar.

Assim são as nossas perdas: se vão antes da hora, nos deixam com a sensação de vazio; a sensação de que não conversamos, não convivemos, não entregamos, não amamos o suficiente.

Fica a sensação de uma falta, o membro amputado, um buraco vazio no peito, cheio de angústia, agonia e ansiedade.

Perdemos paisagens, lugares, animais, pessoas, amigos, amores, paixões; perdemos, no fundo, um pouco de nós mesmos que se vai agarrado ao ser perdido, na esperança de com ele conviver nem que seja um segundo mais.

Já tive muitas perdas e o meu coração reclamou, doeu profundamente em nome das minhas perdas.

Eu, diante do mar, vi aquele barquinho a vela no horizonte desaparecendo e em sua vela branca vislumbrei - triste - o nome de todos aqueles que amei e perdi.

Naquele momento eu os perdi novamente quando o barquinho, na sua inexorável paz, desapareceu na parede azul do horizonte.

O coração doeu e... os olhos responderam.

Ah!, sábia e malvada vida.

publicado por Antonio Medeiro às 19:30