Devo ao meu amigo Gatão muito do que sou.
Abriu-me as portas do mundo.
Estudantes e futebolistas que éramos, fizemos sólida amizade.
Ele, filho de comerciantes; eu, de operários.
Crianças éramos!
E juntos quebramos velhas regras do conservador Colégio Estadual Dona Alice Autran Dourado - Guaranésia, MG; mas não vou falar disso.
E também quebramos regras das comunidades de italianos, espanhóis e portugueses que não permitiam muito abertamente a relação de amizade entre pessoas remediadas - classe média, antigamente -, e pobres - miseráveis, hoje.
A amizade sobreviveu.
Abriu-nos o espaço e fomos trabalhar em São Paulo.
Lá iniciamos nossa caminhada rumo à vida.
Ficamos desempregados, procuramos emprego a pé, trabalhamos em bancos, em serviços temporários, demos cano em ônibus, passamos fome, comemos de marmita, catamos bitucas de cigarro nas ruas, misturamos concreto, batemos lajes e começamos a curtir o nosso couro para as selas que carregaríamos pela vida afora.
Infelizmente, aos 43 anos meu amigo Gatão se foi; eu fiquei - e, anos depois, aqui estou relembrando, neste momento, as nossas dezenas de histórias.
Entrei no mundo pelas suas mãos.
E até parte do meu pseudônimo - Tõe - veio do meu amigo Gatão.
Foi a única pessoa que conheci que sempre me chamou de Tõe.
Daí o TõeRoberto, hoje.
Saudades do meu amigo Gatão.
Longos anos se passaram desde a sua partida e, hoje, me lembrei do seu sorriso - era bonachão - e ouvi a voz do menino dos nosso 15 anos.
Passa a bola, Tõe!, passa a bola!!!
Um abraço onde você estiver, amigo Gatão!
E para você a música Rock And Roll Lullaby - de B. J. Thomas que você tanta gostava.