Faltando uma semana para o casamento, Genivaldo estava mais liso que uma pedra de gelo.
Nem a meia tinha! A moça pobre, mas o pai enjoado queria casar a filha no melhor estilo. Única filha, desejava ver a noiva mais bonita do mundo. Queria também um noivo apresentável.
Genivaldo arrancava os cabelos da cabeça.
Lirinho, seu amigo de infância, mais saído que Genivaldo lhe disse:
Ô Genivaldo por que tu num aluga a roupa, home!
Tem isso, é? - questionou Genivaldo.
Oxente, tem sim! Eles alugam até a cueca se tu não tiver.
Assim fez Genivaldo. Foi à loja e alugou tudo: meia, sapato, camisa, gravata, lenço, o terno - do seu gosto - de linho branco, impecável.
O atendente, depois de tudo pronto, advertiu Genivaldo: olha seu Genivaldo, eu só peço pro senhor tomar muito cuidado com este terno, porque ele é caro, muito caro; é importado!
Preparativos do casamento, as amigas ajeitando o noivo, a irmã mais nova de Genivaldo falou com a mãe: manhê tem um cajuzão sem tamanho lá em cima do pé de caju. Pede pro Genivaldo apanhar pra mim. Tô com vontade de comer caju!
Genivaldo gritou lá do quarto: tu tá doida, menina! Oxente, eu tô me arrumando pro casamento. Eu vou lá mexer com caju!
Esquecido o caju, a hora do casamento chegou: Genivaldo, no terno de linho branco, camisa preta, gravata listrada de preto&branco, lenço vermelho no bolso, sapatos pretos, meias brancas; parecia um major, um homem de posses, não fosse o aluguel de tudo ter sido feito no crediário.
Pronto, deu um beijo na mãe, outro na irmã, um abraço no pai - todos felizes e orgulhosos -, e se dirigiu à porta pra chegar até o carro de Lirinho que ia levá-lo à igreja.
Mal atravessou a porta, deu dois passos em direção ao portão - isso já embaixo do cajueiro que ficava na frente da casa - quando a tragédia abateu-se sobre ele: o caju, o cajuzão desejado pela irmã, o único caju daquele cajueiro soltou-se lá de cima e caiu bem no cocuruto da sua cabeça.
Foi caldo de caju - nódoa pura - para todos os lados: escorreu na frente e atrás do paletó de linho branco, na camisa preta, na gravata listrada de preto&branco, na calça de linho branco, no lenço vermelho. Até na cueca chegou: o líquido escorreu pelas costas e desceu pelo desfiladeiro das nádegas.
Ficou gelado. Lembrou-se da recomendação do dono do terno: é caro, muito caro, é importado!
Não falou nada. Entrou em casa, tirou a roupa, vestiu a velha bermuda preta, a camiseta regata suada, a chinela havaiana e saiu pra rua.
No bar do Bigode, pediu uma cachaça, virou numa talagada só e murmurou entre dentes: já que eu tô fudido, fudido e meio! foda-se o casamento!
Pediu outra cachaça e vapt!....
Começou a se sentir mais leve quando um cheiro delicioso de caju começou a chegar às suas narinas.
Pensou: que merda!!!
E pediu outra cachaça.