A história corria à boca miúda; anos 60 ou 70 - não importa - num vilarejo em Minas Gerais.

Cumpadi Zé, marido de cumadi Maria - roceiro, sitiante - cumpadi de cumpadi João, marido de cumadi Maria.

Cumpadi de beber, pitar, pescar e caçar juntos. De tocar plantio de milho, de fazer colheita de arroz, de capar porco, fazer pamonha, tocar mutirão um do outro.

Cumpadi Zé e cumpadi João, unha e carne um com outro. Assim também cumadi Maria com cumadi Maria.

Porém, sem mais nem menos - contam - cumpadi Zé descobriu que cumpadi João estava ciscando no seu galinheiro, estava macheando com a cumadi Maria dele - Zé.

Nem um pio! Dali pra frente começou a discutir com Maria o futuro dos seus três filhos. Preocupação com o que vinha pela frente: guerra, morte, doença, geada, seca... com o governo.

Convenceu Maria a vender primeiro a casa, depois uma rocinha que tinha lá pras bandas da Cachoeira, depois um terreninho no Bom Jesus, um outro pedacinho de terra perto dos Pinducas e, por último, o sítio com tudo que tinha dentro.

Terminado o assunto dos bens, convidou, num domingo, cumpadi João, sozinho, pra almoçar em sua casa.

Almoço farto: arroz, feijão, frango, quiabo, angu, pimenta - aquela cachacinha, boas risadas, um queijinho com goiabada de sobremesa - aquele cafezinho mineiro gostoso.

Terminado o almoço, disse ao cumpadi João:

Bem cumpadi, sabe cumo é qu'é! Tô sabeno qui o cumpadi faiz gosto pur minha muié, Maria.

Cumpadi!!!

Sacou o 38 e disse: Puis tá tudo certo! Vosmecê tire a ropa! E ocê tamém, Maria.

Cê tá loco, Zé! O cumpadi tá aqui!

Tire a ropa, muié! O cumpadi tá cum o zóio vidrado de tanto vê seus quartos!

Tiradas as roupas, ele disse:

Agora, Maria, ocê bota o braço na escadera do cumpadi e o cumpadi bota o braço no seu cangote.

Assim fez: revólver em punho - meio-dia - a pracinha do coreto cheia de gente- cumpadi João e cumadi Maria pelados na frente - abraçados - ele atrás.

Gente pra dar com pau!

Deu 03 voltas na praça - cabeça erguida - atravessou a rua e bateu na porta da casa de cumpadi João.

Cumadi Maria atendeu: quase teve um troço quando viu a cena.

Agora cumadi Maria - disse ele - a Maria vai morá nessa casa cum vosmecê e cumpadi João. Bote os dois pra dentro, feche a porta e...

Dali pra frente ninguém conta, mas dizem: cumpadi Zé ficou famoso pela malvadeza e cumpadi João pelas Marias.

É o que dizem!

publicado por Antonio Medeiro às 10:06