Textos Escolhidos

 

Lembro-me, como se fosse hoje, do dia do meu nascimento.

Através dos olhos da minha mãe, lá no céu, eu via a lua: grande, pensativa, majestosa.

Pelas suas narinas eu sentia o forte perfume das damas-da-noite e me sentia tranqüilo.

Através da sua mão, na barriga, eu me sentia protegido e pronto para o maior evento da minha vida.

Pelos seus ouvidos, ouvia a orquestra:

"Ai, ai, ai, ai/está chegando a hora/o dia já vem raiando meu bem/eu tenho..."

Mas eu não nasci assim... digo, assim de qualquer jeito; tipo: numa cama ou num hospital.

Você não sabe, mas o Brasil preparou uma grande festa para a minha chegada: bumbos, tambores, zabumbas, pistons, clarinetas, saxofones, tubas, cornetas, sanfonas, fantasias, cantos, danças, muita euforia, alegria e ... as trombetas!

Pelos sentidos da minha mãe eu participava da festa: era muita música... música... música, muita alegria... alegria, vibração... muita vibração!

Festa! Festa! Foram muitos dias de festa!

No dia em que nasci eu senti que a festa estava no seu auge.

Minha mãe dançava de alegria, as pessoas em êxtase, as orquestras extrapolavam os seus limites.

O Brasil, ansioso, aguardava.

De repente, do nada, sem mais nem menos, às 4:10 da manhã, de uma quarta-feira de cinzas, eu cheguei.

Caí e saí pulando no meio do salão cheio de gente.

Não tivesse Macunaíma nascido em 1926...

As pessoas: "Chegou/chegou/General da Bandaê, ê, ê..."

A orquestra: "Ma ma ma ma mãe eu quero/mamãe eu quero/mamãe eu quero mamar/me dá a chupeta..."

Minha mãe: "Menino/você é um docinho de coco/tá me deixando louca/tá me deixando louca..."

Eu: "Daqui eu não saio/daqui ninguém me tira..."

E aqui estou e... confesso: o mundo é muito melhor do que eu esperava!

Chega de conversa! Eu vou é sair, comprar umas cervejas, um engov, um tira-gosto, colocar o cd do Chico para tocar e vou encher a cara.

Parabéns para mim, naquela  data...
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TõeRoberto-10:21-post in jampa/pb

música: O Bêbado E A Equilibrista - João Bosco
publicado por Antonio Medeiro às 05:17