Morra de inveja!
Sou um cara privilegiado.
Sou vizinho de uma casa de mulheres de 'difícil vida fácil', ou de 'fácil vida difícil'.
Politicamente correto falando: sou vizinho de um puteiro.
Um puteiro moderno.
Entrega em domicílio, massagens, hora marcada, aula de danças... internet.
Discretos como todo bom vizinho deve ser, jamais aborrecem e, como acontece em toda casa, uma briguinha de vez em quando onde a palavra 'puta', não sei o porquê, é sempre mencionada.
Às vezes, no silêncio da noite, ouço leves ruídos, como um roçar de asas, algo como um gemido, talvez uma repressão à dor, ao prazer, ao amor, ao ódio que não se pode manifestar livremente no meio da vizinhança alerta.
E sinto, com os meus botões, que vão cumprindo o seu desígnio de psicólogas natas: curam momentaneamente a solidão, o rompante, a timidez, a voracidade... as almas carentes de uma mão na cabeça, de uma conversa fiada, de um sorriso forçado.
Me parecem livres, embora tenham dono, e cantam, e criam os seus poodles e vivem aparentemente aguardando a terrível idade que chega.
Me parecem livres, mas vivem na corda bamba da sua falsa beleza, do seu falar ensaiado, do seu querer não querendo.
Me parecem livres, mas às vezes choram de mansinho acalentadas pela esperança de que esta noite será melhor que a noite de ontem.
E são pessoas como todas as outras: gente simples que vai ao supermercado, ao médico, ao cinema, à escola... à igreja.
Misturadas no meio do burburinho da cidade são pessoas como a nossa tia, a nossa irmã... a nossa mãe.
Anônimas são respeitadas, chamadas de senhoras, senhoritas, estes nomes que a sociedade hipócrita usa para disfarçar a mascarada instituição familiar, onde a prostituição doméstica é muito mais comum do que se pensa.
São minhas vizinhas!
Melhores, bem melhores que muitos vizinhos que tive pela vida afora!
TõeRoberto