O que são 7 anos na memória?
Um eco?
Um vago?
Um vazio?
Um tédio?
Um rastro?
Ou a simples constatação do nada
a que somos submetidos
a cada idade
a cada tempo
a cada caso?

Ou seremos somente
uma lágrima afiada
uma dor embrulhada na mala
os passos caminhando ao acaso
os olhos procurando nova casa?

Seremos mesmo memória
ou tempo diluindo nossa história?

Seremos resíduos de fatos
olhos de crianças confessas
cacos de copos estilhaçados
móveis empoeirados e riscados
fundas discussões sobre o passado
sonhos, pesadelos embolorados
ou tudo é o tempo que aflora
corroendo nossos ossos, nossa carne
roçando nossos lábios
nossa pele
gritando que o minuto é passado
gritando que a ruína se alicerça
na nossa alma dilatada?

Seremos o corte da alma
ou o simples palpitar do coração
o frio imaginário das retinas
o gesto adormecido em cada mão
ou somos o acordar do que não somos
a fome de sonhar o que perdemos
o grito aprisionado no estômago
a vida que nos exige
no momento?

O que seremos?
Crimes?
Desrespeitos?
Vis traições?
Ratos?
Sanguessugas?
Escorpiões?
Homens e mulheres que palpitam
no peito incendiado da emoção?

Ou tudo é deleite de quem vive
sonhando ser a águia ou gavião
que voam no espaço azulado
sem rumo
sem regras
sem precisão?

Ou seremos o espelho dos instantes
o canto impreciso das manhãs
o fruto que deseja ser mordido
pelo vasto itinerário das paixões?

O que seremos?
O que fomos?
O que somos?
Um riso sanguinário de atitudes
ou almas precisando de perdão?
(São Paulo/Sp)

publicado por Antonio Medeiro às 12:06