Homens&Pássaros

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Quinta-feira, 31 / 03 / 11

A broxada

Não há nada pior, para um homem, que uma broxada.

Foi o que aconteceu com Geraldão.

Zoneiro velho, solteirão convicto, famoso pela sua performance sexual - estava ali, agora, ao lado de Mirilinha, a puta mais gostosa da zona -, o pau desmoralizado.

O que pra ele foi sempre fácil - subir o pau - tornara-se um pesadelo.

Mirilinha fez de tudo:

Mão, boca, peitos, bunda, pés...

Nada fez aquele gigante adormecido acordar.

Passou a língua por ali, por aqui, por acolá, fez cócegas nas bolas, mexeu, mexeu, jogou pra lá, pra cá, beijou de novo, de novo..., nada!

O Golias cabeça baixa estava, cabeça baixa ficou.

"Isso acontece! é assim mesmo! não foi tão mal assim! você é foda! você é gostoso! amanhã você volta!"

Nada! nada que Mirilinha fizesse, ou falasse, adiantava.

O estrago estava feito.

Geraldão tinha broxado.

E era um segredo para o resto da sua vida.

Homem é assim: a conta tá no vermelho, foi protestado, o Corinthians perdeu, o banco tomou a casa, a mulher foi embora com o leiteiro - tudo bem!

Isto a gente se vira!

Mas broxar???

Broxar é o supremo fracasso da raça masculina.

Os homens se apegam à rigidez do seu membro e o empunha como um troféu a ser conquistado.

A flacidez incontrolada do membro o coloca numa posição inferior em relação aos outros da sua espécie.

E isto o deprime, o magoa... e envergonha.

Isso se não se tornar público!

Se tornar público aí é motivo de suicídio.

Geraldão subiu no cavalo, cabisbaixo, e saiu do puteiro.

No caminho, vergonha e desespero aplaudiam a sua vontade de se matar.

A viagem até a sua casa foi sofrida e sofrida... e sofrida.

Em casa, pelado, se preparava para dormir quando, do nada, o pau acordou.

Olhou para o membro - matuto que era - e pensou: fio da puta!, cachorro!, sem-vergonha!

Mas fazer o quê?

No outro dia, subiu no cavalo, dirigiu-se ao puteiro, pegou Mirilinha, levou-a ao cartório e casou-se com ela sem testemunhas.

Era a única maneira de manter a sua broxada em segredo.

Dali pra frente acostumou-se a broxar.

Mas aí é outra história: é assunto caseiro, e com a mulher da gente a gente pode broxar em paz... e em segredo.

E você, quantas broxadas este mês?

publicado por Antonio Medeiro às 03:05
Quinta-feira, 24 / 03 / 11

Rimas e poemas

Esquece, amada!
os dentes destes poemas,
estes inúteis sacrilégios de rimar
amor e dor,
fúria e injúria,
e coisas mais
e vem comigo, em viagem sem destino,
à procura de uma rima mais astuta,
mais audaz.

Que tal patético?
Epilético?
Ou caquético?
E por que não um verbo feio
pra chocar?

Que tal calar?
Ou desprezar?
Ou consentir?
E por que não silenciar?

Que tal, amada,
uma rima desbotada
como sorrir,
aquietar-se
ou desprezar?

E por que não fazer o poema
sem a rima,
sem seu ritmo,
seu flutuar?

Por que não deixá-lo torto,
não deixá-lo morto,
não deixá-lo como ele está?

Por que fazer o poema
se não se acha uma rima
para fazê-lo voar?

Esquece, amada!
Não há poema para rimar,
não há rima para explicar,
não há nada pra se falar,
do sentimento profundo
de nós dois,
pobres poetas,
que vasculham o alfabeto
à procura das palavras
para o poema alinhavar.

Esquece, amada!
Nada mais vou procurar,
eu tenho medo por nós,
o poema é perigoso
e pode achar uma rima
para o verbo magoar.

E se eu achar esta rima,
a rima certa, dolorosa,
a rima dura,
a rima pura,
a rima rica para rimar?

Se eu achar esta rima
na certa , amada minha,
os corações vão sangrar.
(Santos/Sp/Parte Final/11:35hs)

publicado por Antonio Medeiro às 03:16
Quinta-feira, 17 / 03 / 11

O caju

Faltando uma semana para o casamento, Genivaldo estava mais liso que uma pedra de gelo.

Nem a meia tinha! A moça pobre, mas o pai enjoado queria casar a filha no melhor estilo. Única filha, desejava ver a noiva mais bonita do mundo. Queria também um noivo apresentável.

Genivaldo arrancava os cabelos da cabeça.

Lirinho, seu amigo de infância, mais saído que Genivaldo lhe disse:

Ô Genivaldo por que tu num aluga a roupa, home!

Tem isso, é? - questionou Genivaldo.

Oxente, tem sim! Eles alugam até a cueca se tu não tiver.

Assim fez Genivaldo. Foi à loja e alugou tudo: meia, sapato, camisa, gravata, lenço, o terno - do seu gosto - de linho branco, impecável.

O atendente, depois de tudo pronto, advertiu Genivaldo: olha seu Genivaldo, eu só peço pro senhor tomar muito cuidado com este terno, porque ele é caro, muito caro; é importado!

Preparativos do casamento, as amigas ajeitando o noivo, a irmã mais nova de Genivaldo falou com a mãe: manhê tem um cajuzão sem tamanho lá em cima do pé de caju. Pede pro Genivaldo apanhar pra mim. Tô com vontade de comer caju!

Genivaldo gritou lá do quarto: tu tá doida, menina! Oxente, eu tô me arrumando pro casamento. Eu vou lá mexer com caju!

Esquecido o caju, a hora do casamento chegou: Genivaldo, no terno de linho branco, camisa preta, gravata listrada de preto&branco, lenço vermelho no bolso, sapatos pretos, meias brancas; parecia um major, um homem de posses, não fosse o aluguel de tudo ter sido feito no crediário.

Pronto, deu um beijo na mãe, outro na irmã, um abraço no pai - todos felizes e orgulhosos -, e se dirigiu à porta pra chegar até o carro de Lirinho que ia levá-lo à igreja.

Mal atravessou a porta, deu dois passos em direção ao portão - isso já embaixo do cajueiro que ficava na frente da casa - quando a tragédia abateu-se sobre ele: o caju, o cajuzão desejado pela irmã, o único caju daquele cajueiro soltou-se lá de cima e caiu bem no cocuruto da sua cabeça.

Foi caldo de caju - nódoa pura - para todos os lados: escorreu na frente e atrás do paletó de linho branco, na camisa preta, na gravata listrada de preto&branco, na calça de linho branco, no lenço vermelho. Até na cueca chegou: o líquido escorreu pelas costas e desceu pelo desfiladeiro das nádegas.

Ficou gelado. Lembrou-se da recomendação do dono do terno: é caro, muito caro, é importado!

Não falou nada. Entrou em casa, tirou a roupa, vestiu a velha bermuda preta, a camiseta regata suada, a chinela havaiana e saiu pra rua.

No bar do Bigode, pediu uma cachaça, virou numa talagada só e murmurou entre dentes: já que eu tô fudido, fudido e meio! foda-se o casamento!

Pediu outra cachaça e vapt!....

Começou a se sentir mais leve quando um cheiro delicioso de caju começou a chegar às suas narinas.

Pensou: que merda!!!

E pediu outra cachaça.

publicado por Antonio Medeiro às 09:20
Quinta-feira, 10 / 03 / 11

Porto Seguro II

A poesia, na noite,
ronda a vida
como um animal acuado.

Ouço, com medo,
em silêncio,
o seu caminhar lá fora.

O coração, história nenhuma,
contenta-se em gemer
ao ritmo do rugido da fera.

E tudo é uma história,
um sentido incrustado nos ossos,
um sono de dormir noite nenhuma,
um perder-se na noite dos tempos,
um derramar-se sem abraços
no final da grande farsa.
(Eunápolis/Ba/06:15hs)

publicado por Antonio Medeiro às 10:33
Quinta-feira, 03 / 03 / 11

Hormônios

Cara, estou fudido!

Estava me olhando no espelho, corpo inteiro, e fiquei assustado.

A minha teta esquerda está maior que a direita.

O meu bigode, do lado direito, está mais grosso, mais preto do que o do lado esquerdo.

Está nascendo pelo no meu peito; um pelo ralo e preto.

Exclamei: cruz-credo!, e a minha voz saiu diferente... meio fina.

Me olhei bem e percebi que, depois de velho, eu cresci uns 03 cm.

Os pelos do lado esquerdo do saco estão caindo, os da direita estão viçosos.

O pau, que sempre foi pequeno, tá diminuindo.

O saco, que sempre foi durinho, está espichado; as bolas, pesando cada vez mais, estão puxando o pau pra dentro.

A minha coxa esquerda está dura, a direita está flácida com menos pelos que a esquerda.

A minha perna direita, pelada - a esquerda, peluda.

As unhas do pé esquerdo, que cortei no mesmo dia que cortei as do pé direito, estão duas vezes maiores que o direito.

Rapaz, depois de velho estou em plena metamorfose.

Só falta menstruar!

Estou assustado!

Estou me transformando em outra coisa.

Metamorfose atrás de metamorfose.

Calculo que até o final do ano terei penas.

Assustado fui até a cozinha tomar um copo d'água.

Abri a geladeira e dei de cara com um Frango da Terra, um Contrafilé Frigoboi, um Lombo de Porco Sadia, um Chester Perdigão, um peixe de não sei quem, um...

Pensei: porra!, aqui está parte dos responsáveis pelo desaparecimento do meu pau.

Os restos mortais dos pobres animais criados com hormônios para crescerem mais rápido... e morrerem mais rápido.

Pensei: caralho!, este troço é um perigo.

Vou me transformar em vegetariano!

Pensei: mais aí eu estou fudido de vez!

E o agrotóxico?

As centenas de tipos de cânceres?

Pensei: puta que o pariu!, viva os hormônios, deixa o pau sumir.

Ainda não mexeram com a língua.

Nem com a bunda!

Você que gosta de hormônios comprados no supermercado, compre e guarde bastante vaselina.

Porque no futuro vai faltar.

Os homens estão em extinção.

A nova raça não tarda.

E teremos sexo duplo e fuderemos a nós mesmos sem camisinha.

Com a geladeira cheia de frangos da Sadia.

O corpo coberto de penas.

E a voz do Pato Donald.

Já estou mijando sentado.

publicado por Antonio Medeiro às 08:40
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