Olho olhos nus
olhando nus meu nu
e eu sem ter olhos
olhos nus
olho nu meu nu
sem tu.
Olho olhos nus
olhando nus meu nu
e eu sem ter olhos
olhos nus
olho nu meu nu
sem tu.
Não entendo lhufas de meio ambiente e de mercado imobiliário.
Mas entendo perfeitamente o que os meus olhos veem.
Convivendo com o Nordeste há mais de 20 anos assisto, estarrecido, às mudanças que vêm ocorrendo nas comunidades litorâneas.
O loteamento absurdo de todo o litoral por portugueses, espanhóis, italianos, entre outros, vem causando uma mudança radical na paisagem nordestina.
O filme "O Massacre da Serra Elétrica", perto do verdadeiro massacre da serra elétrica que vem ocorrendo por aqui, é filme de humor.
A maioria dos "novos exploradores”, no que diz respeito à cultura local e à preservação do meio ambiente, não tem o menor compromisso com as comunidades locais.
Seu único interesse é o lucro fácil e imediato.
Construção de 'pombais', 'caixotes', verdadeiros cortiços em áreas de rara beleza é uma cena muito comum hoje em dia.
A poluição visual cresce a olhos vistos.
A derrubada de extensas áreas verdes - árvores antigas, a grande parte frutíferas, tornou-se uma rotina.
Da dó, por exemplo, da Praia da Pipa, no Rio Grande do Norte.
Está se tornando um condomínio a céu aberto.
Os estrangeiros arrancam a mata nativa, constroem seus condomínios e prédios - muitos horrorosos - e plantam grama no lugar.
As prefeituras, aparentemente, são inoperantes.
As leis ambientais, segundo dizem, são severas, mas parece que não são aplicadas para a maioria dos empreendimentos imobiliários.
Além da destruição do meio ambiente os "novos exploradores" também causam muito impacto nas economias locais.
As construtoras - ou sei lá quem - inflacionam violentamente o mercado imobiliário, porque muitos dos seus empreendimentos são direcionados ao público externo que pagam em euros e dólares valores que não correspondem aos preços do mercado local.
Só posso dizer: é uma pena!
Infelizmente, o "progresso" avança destruindo a paisagem antiga.
E planta uma nada boa de se ver no seu lugar.
Tudo está se transformando numa coisa diferente do Nordeste de antigamente.
Desde a música até a culinária - aquela cozinha simples, singela, barata e maravilhosa vai se despedindo.
Hoje a culinária está nas mãos de curiosos ou pessoas ávidas em cobrar preços não condizentes com a realidade local.
O mundo gira totalmente em torno do dinheiro - sujo ou limpo - se é que existe dinheiro limpo.
De uma coisa eu tenho certeza: não comemos nem bebemos prédios, muros, condomínios, carros, celulares, computadores e dinheiro.
Comemos comida e bebemos água, e não sei até quando isto vai ser possível.
Visite o Litoral do Nordeste Brasileiro antes que ele se torne uma Colônia Européia.
Sem xenofobia!
Impossível sorrir quem não sonhar
a casa
a oficina
o artesão
ofícios de leveza
versos finos
verdes linhas de pureza
e paixão.
À oficina doe asas azuladas
mãos de veludo
pés de anjo ao artesão
e atente-se ao mergulho
interminável
na profunda e vasta rosa
da ilusão.
A casa doe a fantasia
já composta
na alada oficina do artesão
e voe leve pelo espaço
do instinto
extrapolando o negro fel
do coração.
Ajuste-se a casa
o fino pólen dos suspiros
e os excitantes elementos
do artesão
e ao silêncio da oficina
do menino
prenda-se um canto
de certeza
pequenino
com o carinho que restar
em casa mão.
Cortem-se os medos
as feridas
os desatinos
com a faca sem perfil
do frio não
e sobrevoe lentamente
os abismos
que se interpõem
entre a oficina e o artesão.
Às patéticas noções de vandalismo
incrustadas nas ruínas
do artesão
junte-se um pouco do silêncio da oficina
semiencantada pela fada
da emoção.
Renda-se um pouco
da dureza dessa vida
a um instante dessa casa
em construção
solte-se a alma
não os lábios
nem os dentes
e sorria sem mover
o ressecado
e indolente hirto corpo
do artesão.
Seu eu fosse um país, diria: estão destruindo as minhas memórias.
Sem brincadeira!
Esta semana dei uma volta por Olinda/PE e fiquei chocado.
Morador que fui de Olinda por quase 05 anos, calcei o meu chinelão de couro e fui atrás das minhas memórias: praças, barracas de praia, restaurantes, bares... pessoas.
Tudo acabado!
Procurei pela Barraca de Tia Amélia, nada!
Procurei pelo meu Chambaril preferido, sumiu!
O meu Queijo de Coalho, já era!
Minhas Agulhinhas Brancas, tchau!
A Fritada de Aratu, nem sinal!
O Caldinho do Esquina 90, evaporou!
Os Ovinhos de Codorna do Ceará, já eram!
O Bar da Buchadinha, beleléu!
Um resíduo do Bar Calamengau, graxa!... graxa!... graxa!...
Alguns amigos: mortos, ausentes, sumidos... desconhecidos!
O mais chocante foi a ausência do Bar mais importante de Olinda, no período que lá morei: O Xinxim Da Bahia, do meu amigo Élcio - o popular Xinxim.
Lá saboreávamos, além da presença sempre especial de Xinxim, uma boa Feijoada, um excelente Acarajé, um maravilhoso Cupim, um Cozido honesto, uma Cervejinha gelada... e um ambiente sempre agradável.
Tudo se foi.
No lugar, uma casa e um silêncio histórico.
Não me sobraram referências em Olinda.
Sou um país de quem extirparam um pedaço.
O mundo gira depressa demais pro meu gosto.
As coisas nascem e morrem, nascem e morrem, nascem e morrem, nascem e...
E nós ficamos atônitos, perdidos na ilha deserta da solidão humana.
Preciso preservar a minha história, senão, quando eu me for, vão me procurar pelas ruas por onde andei e não vão encontrar nem um rastro da minha presença na terra.
E eu não terei existido!