Um objeto
passeia no ar:
Um foguete?
Um asteroide?
Uma alma?
Não!
Uma (b)pomba!
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TõeRoberto-04-098
Um objeto
passeia no ar:
Um foguete?
Um asteroide?
Uma alma?
Não!
Uma (b)pomba!
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TõeRoberto-04-098
Com certeza você tem mãe!
Eu também tenho mãe!
Mas conheço gente que não tem mãe.
Não porque morreu, mas porque não foi parido, foi cagado.
Gente que foi cagada não tem mãe.
Os cagados estão por todos os lados.
Normalmente é gente com grande desvio de personalidade.
Não são pessoas comuns.
Não andam pelas ruas como os paridos.
Geralmente são pessoas que têm grande poder de decisão sobre os outros ou pessoas que morrem de vontade de ter grande poder de decisão sobre os outros.
Estão no topo do mundo ou estão lambendo as botas dos que estão no topo do mundo.
Os cagados são os patrocinadores, os promotores das guerras, da fome, do atraso político e social dos países; manipulam os bens em benefício próprio e, muitas vezes, dirigem os destinos de milhões de pessoas como se fossem de sua propriedade. Ou morrem de vontade de fazer isto e vivem de pequenas malvadezas na base ou no meio da pirâmide social.
Os cagados nada entendem das questões humanitárias.
São egocêntricos, personalistas, messiânicos e tendem a ser supernarcisistas - estão sempre com a cara pregada na parede da mídia.
Os cagados só amam a si mesmo!
Têm o nariz bem grande e o metem frequentemente na vidinha comum dos paridos.
Um dos personagens mais famosos dos cagados foi - e ainda é G.W.B., acompanhado de um monte de cagadinhos que viviam lambendo as suas botas e não tiravam o seu saco das mãos.
Nós, os paridos, ainda somos pessoas que leem poemas, amamos os pores-do-sol, os luares, tomamos cervejas nos botecos das esquinas, jogamos bola no campinho da rua de cima, nadamos em ribeirão, namoramos no portão, temos amigos e somos completamente contras as guerras, os armamentos, o excesso de trabalho, o desemprego, a poluição, a destruição do meio ambiente, a miséria, o preconceito, a destruição da cultura e dos direitos dos povos.
Os paridos estão sempre batendo de frente com os cagados.
Pouco adianta.
Os cagados são o que o mundo é.
Preenchem com perfeita exatidão o lado negro da vida.
E não têm mãe!
São os donos do dinheiro do mundo e, no momento, estão brincando de bolsa de valores e de subir e descer o dólar, suas diversões favoritas.
Enquanto isso os cagadinhos fazem leis, têm orgasmos, e vivem falando merda na televisão.
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TõeRoberto-05:098
Também não precisava tanto!
Esta desordem no quarto
na sala
na estante.
A vida é uma moda de viola
um palmo de terra
uma voz que consola
um canto.
Pra que esta garrafa
este copo
este sangue?
Pra que esta faca
este rosto lívido
estes olhos brancos?
A vida é uma moda de viola
um palmo de terra
uma voz que consola
um canto.
Pra que este corte fundo
este suor que escorre
este sangue?
Pra quê?
Se tudo que eu fiz
foi lhe dizer:
se manque!...
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TõeRoberto-04:078
Estive observando: o ser humano se evita e cada vez mais se aglomera para sobreviver.
Pense um edifício: uma ilha de gente que mal se conhece, mal se cumprimenta - individualista - que paga as mesmas contas, trabalha em lugares diferentes e convive com os mesmos problemas inerentes à convivência em grupo.
É como estar perdido numa ilha cheia de regras: isto pode, isto não pode, aquilo pode, aquilo não pode.
É uma ilha onde todos se vigiam, onde quem quebra as regras é punido de acordo com a lei das regras.
O sujeito é individualista, mas não é só; ele tem que pensar pelos outros, se conter pelos outros, fazer a vontade dos outros.
É um ser sozinho ligado ao preâmbulo da lei, fadado ao silêncio imposto, às paredes do seu habitat, à sua própria solidão.
E quando menos espera é invadido, torturado, acuado pelos quebradores de leis: os barulhentos, os malcheirosos, os folgados, os libertários das causas próprias... os que criam, mas não seguem as leis.
E o sujeito se esconde atrás da madeira da sua porta, dos tijolos da sua parede, do som da sua música, da sua televisão, ou atrás da lei, para se esconder da vida que ruge ameaçadoramente lá fora.
A ilha é a metáfora do nosso isolamento.
Odiamos ficar sozinhos, mas a convivência vertical nos leva a enxergar o horizonte deserto, porque, na ilha, a vida ou está acima ou abaixo de nós, numa pirâmide fria de rostos e almas disformes.
E nela passamos nossos dias à espera do grande navio.
O que nos levará além do horizonte azul.
O que nos revelará a vida no sentido horizontal, como ela é.
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TõeRoberto-05:078
Só
muito só
neste quarto
nesta cama
nesta noite
nesta cidade
nesta vida
neste suicídio.
Só
muito só
comigo
sentado triste
olhos sem brilho
feito um menino
de castigo.
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TõeRoberto
Imagine você chegar em casa - não estamos preparados para isto - e encontrar, você que é o maior tesão do mundo - e sabe disto - o seu marido na cama, numa posição pouco ortodoxa, fazendo um 69 com o seu melhor amigo.
Foi o que aconteceu com Lucialma.
Chegou em casa mais cedo e pegou Vanderlã com a boca na botija de Etevaldo e Etevaldo com a boca na botija de Vanderlã.
Foi um choque!
Procurou um troço pra sacudir em Vanderlã, não achou.
Procurou um troço pra se matar, não achou.
Inconformada, bateu a cabeça no guarda-roupa, chutou o criado-mudo, quebrou o espelho da penteadeira, arrancou os cabelos e tirou a roupa. Ficou se olhando - nua - maior tesão do mundo, no espelho quebrado. Um desperdício, pensou.
Depois ficou olhando a cena: Vanderlã virado prum lado, Etevaldo pro outro - um olhando a botija do outro - agora broxados.
Olhou para Etevaldo e disse baixinho: Viado!... Viadiiiiiinho!
Olhou para Vanderlã e... Viado! Viadoo!! Viadooo!!! Viadoooo!!!! Viadooooo!!!!! Viado! Viado! Viado! Você gosta é de homem, é?
Saiu do quarto e desapareceu por 30 dias.
Na quinta-feira santa reapareceu na vila: cabeça raspada, camiseta, calça jeans, tatuagem de sereia no braço direito, corrente grossa no pescoço e um coturno preto nos pés.
Interpelada, disse: Sou a nova marida de Vanderlã. Se ele gosta de homem, agora eu sou um.
Deu uma cuspida no chão, uma bela coçada no saco e pediu uma cachaça.
Ninguém soltou um pio.
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TõeRoberto
De fugas e viagens fomos feitos:
para isso nascemos profundos e leves
mergulho inalterado e infinito
pássaros de plumagens coloridas
poços de águas cristalinas
a refletir imagens comovidas.
De fugas e viagens fomos feitos:
para isso nascemos marítimos.
De água, sal, peixes, corais, horizontes
fomos feitos
e o líquido nos conduz à clara essência
daquilo que nos olhos desliza.
De fugas e viagens fomos feitos:
para isso nascemos retilíneos
lisos, cortantes, contundentes
viagens de faca carne adentro
ruídos de metal por entre os dentes.
De fugas e viagens fomos feitos:
para isso nascemos ausentes.
Ausentes de nós mesmos e do poente.
Ausentes de nós mesmos e do poente!
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TõeRoberto