Homens&Pássaros

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Domingo, 31 / 01 / 10

Eu tô cansado

Eu acho que tô cansado de fazer as mesmas coisas há um monte de tempo.

Pô, alguém já gritou lá no fundo: "o TõeRoberto tá depressivo!"

Eu tô cansado, não tô depressivo. Depressivo é alguém que não tá nem aí com a vida, tá desconectado, que vive pelos cantos se escondendo do mundo.

Eu tô cansado!

Só cansado!

Ser amado, querido, transar, mijar, cagar, tomar banho, escovar os dentes, vestir a bermuda, calçar o chinelo, pentear os cabelos, publicar o Homens&Pássaros, ir na padaria, comprar o pão, fazer café, abrir o pão, passar manteiga, colocar o café na xícara, comer o pão, beber o café, escovar os dentes, sair, caminhar 10 km na praia, ver o marzão verde de João Pessoa, olhar a paisagem, passar por aquelas mulheres horríveis, voltar para casa, tomar banho, não fazer porra nenhuma...

Tô cansado!

Tô cansado de fazer o que eu quero!

Eu quero quebrar pedras!

Fazer buraco na rua!

Cortar granito!

Trabalhar na construção civil!

Eu quero criar bode na caatinga!

Quero carregar água nas costas!

Quero comer calango!

Quero carne de pescoço!

Eu quero me fuder pra deixar de ser fresco!

Gente fresca tem que se fuder!

Gente que vive reclamando de tudo tem que se fuder!

Gente que não sabe o que tem que se fuder!

Gente que chora de barriga cheia tem que se fuder!

Idiota tem que se fuder!

Eu quero me fuder porque tô cansado!

Tô cansado da minha vida boa!

Tô cansado de poder ser eu mesmo!

Tô cansado de estar cansado!

Tô cansado de reclamar!

Me fodam por favor!

É só pra eu dar valor na minha vida!

É só pra eu deixar de ser burro!

É só pra eu deixar de ser besta!

Mas depressivo, não!

Só cansado de ser feliz!

.
TõeRoberto

publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Quinta-feira, 28 / 01 / 10

Pergunta no Iraque

Mãe!
Por que criaram a bomba?

 

Bum!!!...

.
TõeRoberto

 

publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Segunda-feira, 25 / 01 / 10

O viver

Viver é o barato supremo.

Apesar de todas as mazelas da vida: das suas idas e vindas, das suas dores, a vida é algo extraordinário.

Sempre digo: só por você ter visto:

O pôr-do-sol na Praia do Jacaré, na Paraíba;

O luar que eu vi em São José da Coroa Grande, em Pernambuco;

A Praia do Amor, na Pipa, no Rio Grande do Norte;

O casario colonial, em Minas;

A Lagoa Azul, em Jericoacoara;

A Praia de Trancoso, na Bahia;

O Rio São Francisco, em Alagoas/Sergipe;

A beleza da Ilha Grande, no Rio de Janeiro;

A Praia de Santiago, em São Paulo;

O Rio Araguaia, em Goiás;

O Vale do Itajaí, em Santa Catarina;

O Pantanal, em Mato Grosso;

As Esculturas de Vila Velha, no Paraná;

As dunas de Itaúnas, no Espírito Santo;

A arquitetura de Niemeyer, em Brasília, já valeu a pena viver.

Isto é só uma amostra: poderia listar milhares de lugares que estão por aí e, por si só, são um espetáculo à parte.

Poderia justificar, ainda, o barato de viver com outras centenas de argumentos, por exemplo:

O nascimento do primeiro filho;

Assistir a um FlaFlu no Maracanã;

Ler o Homens&Pássaros;

Comer uma feijoada, com uma bela caipirinha;

Ler um poema do Drummond;

Ouvir uma boa música do Chico;

Assistir Cinema Paradiso;

Pescar sozinho;

Encontrar 'aquele' amigo desaparecido;

Dar de cara com o Grande Amor;

Ver o Bush se foder;

Cultivar um Jardim;

Lutar contra a miséria e o preconceito;

Escrever um poema e plantar uma árvore;

Ver o primeiro filho dar o primeiro passo.

Não importa o andamento da vida. Ela, nem que tenha sido por apenas um segundo, encanta e deixa a gente com aquela sensação de que qualquer maneira de viver vale a pena.

Seja na normalidade, na riqueza ou na miséria a vida sempre tem alguma coisa a mais a nos oferecer, nem que seja apenas o sorriso de uma criança, o desabrochar de uma flor ou uma daquelas tardes ensolaradas acompanhada daquela chuva fria, fina e clara que, em Minas - quando acontecia - dizíamos:

"Sol e chuva/casamento da viúva/chuva e sol/casamento de espanhol".

Um brinde à vida!

Cuidado com ela: só existe uma!

.
TõeRoberto

publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Sexta-feira, 22 / 01 / 10

O pobre

O pobre sentia frio
que fazia pena,
e quanto mais pena fazia,
mais frio o pobre sentia.

 

E na carne entrava o frio,
na alma entrava a pena,
e quanto mais pena entrava,
mais frio na alma fazia.

 

A carne o frio açoitava,
a alma a pena feria,
e o pobre do pobre, coitado;
calado, calado, sentia,
em todas as penas sentidas,
por todos os frios da vida,
a posição superaquecida
do cinismo social.

.
TõeRoberto

publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Terça-feira, 19 / 01 / 10

República

Palco: São Paulo.

Local: Rua Afrodízio Vidigal: Vila Maria Alta

Anos: 73/75.

Personagens: Israel, Eliseu, Jesus, Stela, Arnaud, Messias, Vera... e eu.

Éramos os meninos da Vidigal.

Os irmãos Israel/Eliseu e Jesus/Stela, de Tupi Paulista; Vera também; Arnaud e Messias, de Boa Esperança; eu, de Guaranésia.

Grupo heterogêneo: ideias, valores, educação, condições financeiras, aptidões, sonhos diferentes.

Uma coisa em comum: dividir um espaço, se respeitar... e sobreviver.

Louça, roupa, casa, pia sujas. Luz cortada. Água desligada. Música alta. Luz acesa. Coisas jogadas. Cueca pelo chão. Sutiã na mesa da cozinha, Cadê a minha camisa? O meu livro? A minha calcinha? A minha escova de dentes. Barracos! Barracos! Barracos! Pau! Pau! Pau! Porra! Porra! Porra!

Festas, música, poesia, piadas, brincadeiras, histórias, meninas. Risos! Risos! Risos! Legal! Legal! Legal! Oba! Oba! Oba!

Fome! Fome! Fome!

Cardápios inusitados:

Salmoura quente para acalmar o dragão da fome e dormir.

Farinha com água e sal.

Pão amanhecido molhado na água.

Tubaína com broa de fubá para inchar o estômago.

Chuchu cozido sem sal - minha pressão é legal até hoje.

Arroz com arroz acompanhado de arroz.

Bolacha de maizena com bolacha de água e sal.

Pão com ovo. Pão com ovo. Pão com ovo.

Pão com ovo, só pra variar.

Iguarias quase sempre acompanhadas pelo violão de Messias ou poesias minhas e de Israel.

Mas milagres acontecem: nesses anos o Miojo foi inventado. O Miojo revolucionou a vida nas repúblicas. A qualidade de vida melhorou muito. Até os miseráveis das repúblicas pobres - nosso caso - passaram a ter comida. Fome nunca mais!

As mulheres na República não eram muitas, mas transitavam soltas. Arnaud era o garanhão da Vidigal.

Comia - numa época - Railda, a mulher de um cobrador de ônibus.

República movimentada, sempre uma chave disponível no vitrô quebrado da cozinha.

Uma noite: acordei, quarto escuro, só eu e Arnaud na República - uma voz:

Porra, cara! tu tá comendo a minha mulher!

Gelei.

Arnaud: Eeeuuu?

È cara!, apertei e ela me contou. Até onde ficava a chave.

Arnaud: Eeeuuu!

Puxei o cobertor na cabeça e pensei: esse cara não vai deixar testemunhas.

Arnaud: Mas... mas... mas... sa-be... na-na-nada a ver! É só...

Olha só vim aqui dar um aviso: fica longe da Railda!

Escutei os passos no assoalho: o sujeito foi embora.

Graças a Deus o sujeito era corno... e manso, muito manso!!!

No escuro gritei com Arnaud: seu filho-da-puta, cê quer matar a gente, seu corno!

Meses depois, Arnaud encostou uma caminhonete na porta da República e levou tudo que ele julgava ser dele.

Jesus, ao chegar em casa, subiu aos céus, pediu a ajuda do Pai, gritou, esperneou e se conformou.

Não sei por onde andam!

Mas onde estiverem: tô com uma puta saudade de todos vocês.

Afinal de contas, vivemos, convivemos e estudamos na mesma Universidade Da Vida: A República da Vidigal.
.
TõeRoberto-post in férias por aí/br

música: Variada
publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Sábado, 16 / 01 / 10

A união

Somos um
e gostaria que fôssemos dois.

 

Depois nem a vida,
só dois.

 

Somos dois
e gostaria que fôssemos três.

 

Depois nem a vida,
só três.

 

Somos três
e gostaria que fôssemos depois.

 

A união da vida:
três em um.

 

Somos depois
e gostaria que fôssemos acordados.

 

A união dos sonhos:
um só um.

.
TõeRoberto

publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Quarta-feira, 13 / 01 / 10

Os meus filhos

Confesso... sou um pai de coração angustiado!

Não existe uma só madrugada que eu não acorde e não pense nos meus filhos.

Nos mais velhos, nos mais novos, nos solteiros, nos casados, nos distantes, nos pertos.

Uma angústia nada fácil de sentir... uma agonia secreta!

Empregos, esposas, maridos, escola, saúde, vícios... futuro!

Futuro num momento difícil da humanidade: incerteza, violência, doenças, carestia, isolamento, solidão... individualismo.

Projeto-os no futuro distante e fico temeroso, pesaroso... agoniado com suas vidas naquele tempo futuro.

São tão jovens!

Tão ingênuos!

Tão alimentados por esta farsa que é a promessa de que um dia vão conseguir o castelo!

O alazão de asas douradas!

Os seus filhos nos enormes jardins da esperança!

A eterna felicidade!

Eu envelheço!

Mas meus filhos serão sempre crianças!

Expostos à dureza da vida!

À maldade humana!

Às suas próprias fantasias!

Às suas próprias armadilhas!

O mundo escraviza os fortes e engole os fracos... é a lei da selva!

Quando, à noite, viajo pelos tempos futuros e os vejo, ora sorridentes, ora tristes, ora na opulência, ora na falta, lutando desesperadamente para serem felizes, por um momento de paz... o meu coração sangra.

Porque não há nada que eu possa fazer!

Primeiro, porque realmente eu não sei o que fazer para protegê-los do mundo - muita gente acha que sabe - se souberem, por favor me ensinem!

Segundo, porque eles próprios têm sua própria visão das coisas.

Eu mesmo contribuí para isto, e não há nada no mundo que os faça mudar de ideia!

E eles, sinceramente, na maioria das vezes, nem sabem que ideia é esta!

Mas não se preocupem, é só a angústia de um pai!

Às vezes pareço distante, ausente, omisso em relação aos meus filhos.

Mas é só porque, talvez, nunca prestaram muita atenção no meu coração.

É só o coração de um velho pai que sangra angustiado, em silêncio, na solidão da noite.

Chorando pelos seus filhos, junto com eles, as suas perdas e dores... coisas que ainda vão acontecer.

O amor e a paixão... por medo, às vezes são secretos.

E coração de pai, tanto quanto o de mãe, também dói!

Vou descobrindo isto aos poucos!

.
TõeRoberto

publicado por Antonio Medeiro às 05:00
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