Homens&Pássaros

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Terça-feira, 29 / 12 / 09

O fantasma

Eu não sou nada que valha tanto
como pensam os desencantados
eu não sou brilho
não sou nada
apenas estrela
ou, quem sabe, astro
pelo véu da noite acobertado.

 

Às vezes venho para este tempo
como um objeto já esperado
mas apareço, brilho e rebrilho
depois me vou feito um fantasma
e a negra noite de quem me espera
como um desejo já planejado
desce seu manto feito um castigo
sobre seus olhos amortalhados.

.
TõeRoberto

publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Sábado, 26 / 12 / 09

Natal

Ontem foi o dia da grande festa da hipocrisia ocidental.

Este ano estou meio cansado... meio que desiludido.

Não sei se quero falar ou escrever sobre isto.

Fui ao shopping anteontem e a história é sempre a mesma: um bando de gente meio que endoidecida, passando uns sobre os outros à procura de algo que eles não têm a menor ideia do que seja.

Mês de dezembro é um mês horrível.

É o mês onde parte de mundo se resume em comprar, a outra em vender.

Mas como disse, eu não quero falar nisto.

Não quero falar nada, este ano eu só observei.

Fiquei quieto no meu canto e assisti, em silêncio, ao espetáculo assustador de uma sociedade ensandecida pelo consumo.

O Filho de Deus é apenas um mero detalhe, uma desculpa para a grande festa do capital de giro.

Observei: os homens estão cada vez mais distantes dos seus sonhos, das suas crenças, da sua humildade, da sua pureza, da sua liberdade, da sua bondade... os homens são apenas brinquedos manipulados por mãos invisíveis.

Os homens se alimentam e alimentam o veneno do sistema capitalista, onde pessoas são apenas cifrões desenhados nos olhos dos grandes magnatas do sofrimento humano, donos do planeta.

Mas, afinal de contas, somos apenas homens e nascemos e morremos em grande escala.

E sofremos em grande escala.

E o mundo continua.

E choram por nós durante um tempo muito curto.

E depois choram por outros.

E os dezembros se repetem.

E ontem foi natal.

Não costumo me envolver com este tipo de data.

Mas muita gente acredita que é um dia pra se ter paz.

Que é um dia de muita luz.

Eu acredito que a gente deveria ter paz e muita luz todos os dias.

E ser bonzinhos todos os dias.

E pensar nos desamparados todos os dias.

E Ser Humano todos os dias.

Acabei falando mais do que queria e do que devia.

E acho que sempre vou falar.

Mas deixando de ser rabugento por um segundo -  e atrasado - um Feliz Natal para toda a humanidade e um grande abraço para todos os leitores do Homens&Pássaros.

E um grande abraço também para o meu povo longe de mim, e para o meu povo perto de mim.

Jingle bell! Jingle bell! Jingle bell!

.
TõeRoberto

publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Quarta-feira, 23 / 12 / 09

A sentença XVIII

Confusa alma incerta
do poeta
aberta aos sonhos cegos
do profeta.

 

Palavras, a sentença
do arquiteto.

.
TõeRoberto

 

publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Domingo, 20 / 12 / 09

O mar

Ontem à tarde, sentado diante do mar de João Pessoa - aquela cervejinha gelada - me veio à cabeça o poema "Privilégio do Mar", de Drummond.

"Neste terraço mediocremente confortável
bebemos cerveja e olhamos o mar.
Sabemos que nada nos acontecerá.

O edifício é sólido e o mundo também.

Sabemos que cada edifício abriga mil corpos
labutando em mil compartimentos iguais.
Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador
e vêm cá em cima respirar a brisa do oceano,
o que é privilégio dos edifícios.

O mundo é mesmo de cimento armado.

Certamente, se houvesse um cruzador louco,
fundeado na baía em frente da cidade,
a vida seria incerta... improvável...
Mas nas águas tranqüilas só há marinheiros fiéis
.Como a esquadra é cordial!

Podemos beber honradamente nossa cerveja."

Declamando o poema mentalmente, aconcheguei-me na cadeira, sorvi vagarosamente, aos goles, aquela maravilhosa cerveja e bati o pé no chão.

Realmente, o edifício era sólido e pessoas, com ar de cansadas, respiravam a brisa fresca do mar.

E na baía, diante de mim, no horizonte azul do mar de João Pessoa, apenas 01 ou 02 velas brancas - longe - e 01 ou 02 gaivotas - em voo calmo - ameaçavam a paz da humanidade.

Em Brasília, nada disso sabem.

Sabem apenas que o Brasil é deles e navega em águas mansas - marinheiros fidelíssimos - e esquadras cordiais.

A cerveja, não sei se Skol, desceu redonda e eu senti no peito o privilégio de estar diante do mar e de - afinal de contas - ser brasileiro, mesmo que honradamente...

O garçom, sem nada saber, me trouxe outra cerveja.

No horizonte, velas e gaivotas se fundiram e o cavalo negro da noite sobrevoou o verde mar de João Pessoa com suas asas enluaradas.

.
TõeRoberto

publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Quinta-feira, 17 / 12 / 09

O Povo

Dê um herói ao povo e ele
se levanta,
com a fúria das ideias,
com o sangue das veias,
o vermelho das mãos.

 

Dê uma diversão ao povo e ele
se acomoda,
esquecendo as ideias,
o sangue de veias,
a tragédia de um herói.

 

Dê um pensamento ao povo e ele
só aspira,
sem querer incomodar.

 

Fale de futebol,
de cinema,
de televisão,
de teatro,
das novas invenções;
fale ao povo de aumento salarial
e ele sorri,
ele espera,
esquecendo tragédias e heróis.

 

O povo é uma criança adormecida.
O povo não sabe o que quer.
O povo é marginalizado em suas reais
aspirações.

 

Dê um herói ao povo e ele
se levanta,
dê duas diversões ao povo e ele
se assenta.

 

O povo é uma criança que vive
subjugada pelos pais.

.
TõeRoberto

publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Segunda-feira, 14 / 12 / 09

O menino

Era uma vez um menino que nasceu em Minas Gerais.

Adorava cinema, livros e circo.

Grande sonhador!

Assistia aos espetáculos circenses por baixo da lona.

Amava o palhaço, o ilusionista, a bailarina e o equilibrista... amava o circo inteiro!

Mas gostava mesmo era de ler as placas dos caminhões que transportavam o circo: Aracaju, São Paulo, Adamantina, Sumaré, Santos, Belo Horizonte, Cabobró, Sobradinho, Remanso, Juazeiro, Sobral, Recife, Caicó, Linhares, Campos, Cuiabá, Guaranésia, Eunápolis, Ilhéus, Tibau do Sul, Cássia, Olinda, João Pessoa...

Lugares!... Imaginava os longes, as distâncias... os lugares nos mapas.

Sonhava fugir com o circo, pegar uma estrada comprida, uma estrada sem fim... uma estrada para o infinito... um enredo para a sua vida.

Cresceu, não fugiu com o circo, mas caiu na estrada.

Hoje, 55 anos, caminha pela estrada sem fim... a caminho do infinito - o enredo da sua vida ainda sendo escrito.

Acredita que o sonho sonhado está em pleno sonhar e tudo se encaixa perfeitamente nos limites do encantamento da sua vida.

Vez em quando se lembra do circo e, hoje, tem certeza que os personagens mais importantes do circo da sua infância eram o palhaço e o equilibrista.

Afinal de contas, as profissões da sua vida!

De resto, a estrada continua sem fim, o seu enredo ainda está longe de terminar e o circo dorme, em silêncio, no profundo da sua memória de criança.

Era uma vez um menino que sonhava fugir com o circo e caminhar por uma estrada infinita.

Era uma vez um menino que cresceu, fez da sua vida um circo e nunca mais saiu da estrada sem fim.

Era uma vez...

.
TõeRoberto

publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Sexta-feira, 11 / 12 / 09

Duro dura

Duro levantar cedo
duro feijão no caldeirão
dura produção
dura aceitação
duro sol a sol
duro final de mês
dura peregrinação
dura vida dura
mole morte dura
vem!

 

Os homens que verdejam os campos
esperam a encomenda
que nós
no caminhão vermelho
da história
levaremos em doses fortes,
na dura decisão de vencer.

.
TõeRoberto

publicado por Antonio Medeiro às 05:00
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