Era uma vez uma história que se recusava a ser escrita.

O escritor ia pra esquerda - ela, direita; queria sol - ela, chuva; ele, quente - ela, frio; ele, alegria - ela, tristeza.

O escritor iniciava um épico - ela, tragédia; um romance - ela, drama; uma poesia - ela, conto; uma crônica - ela, carta; um elogio - ela, crítica.

Era uma história camaleão.

O escritor, Palmeiras; ela, Corinthians.

O governo é; ela, não é.

O Brasil, uma beleza; ela, uma merda.

Os políticos estão; ela, não estão.

O forró; o samba.

O Nordeste; o Sudeste.

A morena; a loira.

Era uma história geniosa que queria escrever a sua própria história.

Tento convencê-la que no Brasil ninguém consegue escrever a sua própria história, sempre acontece algo que nos desvia da nossa história.

Mas ela não quer saber: ecologia, nem pensar!; miséria, nunca!; corrupção, não!; amor, eca!; esporte, argh!; isto, cansada!; aquilo, cansada! cansada!; aqueloutro, cansada! cansada! cansada!

Escorrega pra lá, pra cá e vai esvaziando todas as minhas possibilidades.

Começo de novo: Era uma vez...

Nada, silêncio absoluto!

A história se esconde atrás da sua ausência definitiva.

Desisto!

Nada de história, nada de nada!

Tudo vazio!

Só posso dizer....

Era uma vez...

Uma história que se recusou a ser escrita.

Era uma vez!

.
TõeRoberto

publicado por Antonio Medeiro às 05:00