Se Eu fosse Deus começaria tudo de novo!
A coisa não tem mais jeito. A continuar assim a minha tão perfeita criação vai se extinguir.
Primeiro Eu arrumaria um jeito - não se esqueça que sou Deus - de sumir com esta praga que tomou conta do planeta: nós!
Sei lá: arrumaria uma prisão-escola numa galáxia distante e colocaria todos nós lá, para que Eu pudesse ficar em paz para dar um jeito de arrumar a bagunça que está aqui embaixo.
A bagunça é tão grande que, mesmo sendo Deus, Eu iria demorar um bocado de tempo pra colocar tudo em ordem.
Vejamos:
A) - diminuir as cidades; devolver aos seus lugares primitivos os rios, os lagos, as montanhas; devolver aos seus lugares as plantas, as flores, os frutos, as aves, os animais, os peixes, as chuvas; verdejar os desertos, refazer as geleiras; refazer o verão, o outono, o inverno e a primavera; despoluir os rios, os mares, o ar, o solo; desaparecer com elementos naturais que Eu criei inadvertidamente: tipo urânio, ouro, diamante, prata, entre outros; desaparecer com políticos, empresários corruptos, os senhores da guerra e da fome; sumir com coisas que possam lembrar, poder, riqueza e cobiça.
B) - Devolver ao planeta as serenatas, a poesia, o modo simples de ser; devolver o contato com a natureza; o céu azul, os luares, os pores-de-sol; aquela pescadinha nas manhãs de domingo; aqueles passeios e namoros na pracinha da igreja, à noite, sem medo; aquele joguinho de futebol no campinho da rua de cima; aquela nadadinha no poço do Seu Delorenzo, no riozinho da pequena comunidade.
C) - Devolver as hortinhas de fundo de quintal, o porquinho no chiqueiro, as galinhas no galinheiro, a cisterna de água límpida e - se um pedacinho a mais de terra - aquela vaquinha leiteira.
D) - Devolver a cortesia, a educação: Bom-dia!, fulano. Boa-tarde!, sicrano. Boa-noite!, beltrano.
E) - Devolver a pureza e a educação aos jovens; a graça e a esperança aos velhos; devolver o prazer de pitar, sem culpas, aquele inocente cigarrinho de palha que sempre fez parte da nossa vida; devolver a virtude, a piedade, a compaixão, a amizade e a bondade aos nossos corações insensíveis.
Isto como primeiro passo. Aí Eu descansaria 07 dias e tiraria, dessa vez, a costela de Eva e nos reinventaria de novo.
Aí Eu pensaria mais 07 dias antes de trazer a praga de volta.
Se Eu fosse Deus sonharia com isto todos os dias.
Apenas sonho, porque sei que mesmo sendo Deus, salvar a minha criação é uma tarefa para o Deus que está acima de mim, o Deus das causas perdidas, o Deus que, de vez em quando, me puxa as orelhas por Eu ter criado o predador que está destruindo a minha própria obra-prima.
Se Eu fosse Deus pensaria nisto.
E acho que deixaria a praga na prisão-escola da galáxia distante por pelos menos uns 20 séculos.
Tempo para que tudo voltasse ao normal.
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