Homens&Pássaros

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Sábado, 30 / 05 / 09

BANHEIRO PÚBLICO

Outro dia entrei no banheiro público de um lugar chique e fiquei estarrecido.

Nas paredes e portas os desenhos e as inscrições de uma civilização decadente.

Testemunhos como:

"Caga cantando que a bosta sai dançando". "Comi muito a puta da tua mãe". "Adoro uma rola". "Me come ou me mato". "Mirtes, a vulva incandescente 36696969". "O futuro do Brasil está nas suas mãos". "Maluf esteve aqui". "Zeca Pereira, aluguel de peia". "Zilda bundona". "Arlete, a cachorrona do boquete". "Lula 2010". "Quando estou no banheiro/me dá uma agonia profunda/a bosta bate na água/a água bate na bunda". "Quem tem cu não faz acordo com pica". "Na frente é certo mas não é justo/atrás é justo mas não é certo". "Eu finjo de morto pra comer o cu do coveiro". "Joãozinho esteve aqui: tu é bão".

Mijo no chão, merda no vaso, batom nas paredes... um retrato lamentável de um país de Terceiro Mundo.

Se o mundo acabasse hoje e descobrissem esses desenhos e essas inscrições nos estudariam como uma civilização obscena e suja.

Creio que o que determina o processo civilizatório de um homem não é a invenção da roda, da escrita, do motor, da penicilina, do rádio, da televisão, da internet, entre outras.

O que diferencia o homem de um animal comum é o fato de o homem civilizado usar o vaso sanitário e limpar a bunda.

De resto, o que vejo nos banheiros públicos sãos os sinais claros e lamentáveis de um povo mal-educado e indubitavelmente porco.

Higiene é vida!

O Homem não pode viver na merda!

Só se for brasileiro!

Falei!!!
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TõeRoberto-post in jampa/pb

música: Variada
publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Quarta-feira, 27 / 05 / 09

A 8ª PEQUENA HISTÓRIA DE AMOR

Um!
Dois!
Três!
Contei até três.

 

Te olhei!

 

Pensei em correr
cair em teus braços:
te abraçar
te morder.

 

Parei!

 

Você nem olhou
nem ligou
nem se mexeu
virou as costas
saiu
saiu andando
morreu!

.
TõeRoberto-post in férias por aí/br

música: Variada
publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Domingo, 24 / 05 / 09

INICIAÇÃO

Filme: A Um Passo Da Eternidade.

Diretor: Fred Zinnemann.

Atores: Burt Lancaster&Deborah Kerr.

Ano: Filmado em 1953.

Sinopse: Alguma coisa relacionada ao ataque a Pearl Harbor

Já ouviu falar? Assistiu?

Pois é! Esta semana esse filme me veio à cabeça. Este filme, não: uma cena deste filme.

Então forcei a memória e me lembrei de algumas coisas do filme: diretor, atores, ano. Não me lembro da sinopse. aliás, não quero saber da história: somente uma cena me veio e é dela que eu quero me lembrar.

Menino: entre 11 e 13 anos.

Pobre, menor, para assistir aos filmes que não podia pagar e nem tinha idade - censura: proibido para menores de 18 anos - a gente pulava o muro e assistia aos filmes atrás das cortinas das saídas de segurança do cinema.

A censura era rígida. O autor da censura: o padre da cidade. Todas as tardes se fechava sozinho no cinema, assistia aos filmes e os censurava criteriosamente. Igual ao padre do Cinema Paradiso.

Mazaroppi, Marcelino Pão e Vinho, Paixão de Cristo: Livre. Pegar na mão: 10 anos. Rebolado: 12 anos. Beijo: 14 anos. Adultério: 16 anos. Cena morna: 18 anos. Cena quente: 21 anos. Cena muito quente: só para homens.

A cena da censura: Burt Lancaster sem camisa & Deborah Kerr de maiô, na praia, se beijando, ganhou um proibido para menores de 18 anos.

A cena: um suave erotismo, mas, de quebra, um adultério.

O calção de Burt Lancaster dava para fazer um terno para cada torcedor do Flamengo. O maiô de Deborah Kerr dava para fazer fio dental para a praia de Copacabana inteira num domingo de verão.

Reação: um monte de meninos assustados com as pernas da Deborah Kerr. E os piupiuzinhos alvoroçados.

O primeiro contato sexual com o mundo: logo com as pernas da Deborah Kerr.

Tremedeira, coração aos pulos, respiração acelerada, sensação de pecado: mas os piupiuzinhos não queriam saber de nada. Daí então nunca mais paramos de nos masturbar - ou Mariquinha /Maricota/com a direita/com a canhota - que era como falávamos naquela época inocente.

O cinema tornou-se a parte lúdica da minha vida. Deborah Kerr foi minha primeira paixão e a minha musa sexual.

E o mais interessante de tudo: naquela época a gente torcia pros americanos - e ai de quem falasse o contrário.

Quando a gente viu o ataque dos japoneses a Pearl Harbor foi um tremendo choque: uma afronta aos nossos heróis. Odiávamos os japoneses.

Felizmente nem o amor nem o ódio são eternos, só as lembranças - eternas cicatrizes - nos levam, vez em quando, a exercer o nosso lado mais humano: aquele sofrerzinho doído pelos anos e histórias que não voltam mais.

Mas uma coisa eu digo: dos 12 aos 15 anos, entre outras, eu comi a Deborah Kerr umas 150 vezes. E asseguro: ela era... ela era - sei lá, ela era!

Isto sim era sexo virtual!

Pra falar a verdade nem sei se o ano, se o filme, se a praia, se o beijo, se a Deborah Kerr, se a censura foram esses.

Só sei que uma mulher existe nalgum canto da minha memória e dela não quero esquecer.
.
TõeRoberto-post in férias por aí/br

música: Variada
publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Quinta-feira, 21 / 05 / 09

ENREDO

Curvo-me ao ódio:
permanente resíduo dos olhos.

 

Disciplino-me, gentilmente
às felinas curvaturas do medo
e sonho silenciosamente
com as cristalinas evidências do enredo.

.
TõeRoberto-post in férias por aí/br

música: Variada
publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Segunda-feira, 18 / 05 / 09

TROÇO

Asdroaldo procurava uma cueca na gaveta de calcinhas quando deu de cara com o Troço.

Quase teve um troço!

Olhou Adneide dormindo. Olhou para o Troço. Olhou Adneide dormindo.

Não pegou o Troço. Abriu a porta do guarda-roupa, tirou a toalha da cintura e ficou observando o seu membro no espelho: cabisbaixo, meio torto para a esquerda, o saco escrotal murcho - pendurado - o membro dormindo com a cabeça apoiada sobre ele. Deu um tapinha pra cá, um tapinha pra lá. Morto estava, morto ficou.

Foi até a cama, puxou o cobertor de Adneide e ficou observando: a mulher - gostosa - só de calcinha, sem sutiã. Olhou para o seu membro no espelho. Deu um tapinha pra lá, um tapinha pra cá. Morto estava, morto ficou.

Foi até a gaveta de calcinhas, apanhou o Troço e voltou para observar Adneide. Olhou novamente para o membro. Colocou o Troço lado a lado com o membro e ficou medindo - pelo espelho. O Troço era um troço e... Deu mais um tapinha...

Cobriu Adneide, fechou a porta do guarda-roupa, guardou o Troço na gaveta de calcinhas, vestiu a cueca, foi até a cozinha - 05 horas da manhã - pegou o litro de cachaça no armário e numa talagada só levou o litro até o meio.

Voltou ao quarto, abriu a gaveta de calcinhas, olhou mais uma vez para o Troço, puxou o elástico da cueca, olhou mais uma vez para o seu membro, largou o elástico da cueca, fechou a gaveta, foi até a cama, deu um beijo no rosto de Adneide, vestiu a roupa, passou na cozinha, deu mais uma talagada de cachaça e saiu para trabalhar.

No ônibus, um troço girando na cabeça... um estranho sorriso nos lábios.
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TõeRoberto-post in férias por aí/br

música: Variada
publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Sexta-feira, 15 / 05 / 09

PERGUNTA VIII

Será que a lua entende de olhos
olhos sem brilho?
Ela que também se apaga no escuro
no escuro dos seus trilhos?

.
TõeRoberto-Post in férias por aí/br

música: Variada
publicado por Antonio Medeiro às 05:00
Terça-feira, 12 / 05 / 09

CEGA

Só pra registrar!

Conheci uma cega - daquelas de olhos brancos, assustadores.

Sinistra! Chata! Assustadora! Uma personagem dos sonhos de Gabriel Garcia Márquez.

De manhã: eu, na varanda, lendo em silêncio - a cega passa na rua.

Cumprimenta e pergunta: "Bom-dia!... Que horas tem aí, moço?"

Arrepios!

Meio-dia: aquele baita sol - a rua deserta - eu, de tênis, descendo a rua - a cega subindo a rua.

A uns 30ms dela atravesso a rua para entrar no colégio.

Vocifera: "Não precisa atravessar a rua pra não passar perto de mim!"

Corri pra dentro do colégio.

Arrepios!

À tarde: a cega vindo pela rua, um pé de chuchu sobre o muro - alguns chuchus pendurados.

A cega levanta a bengala, localiza o chuchu e o apanha.

Arrepios!

Subia no ônibus, ia a São Paulo, descia sozinha, fazia o que tinha que fazer e voltava pra Minas.

300 Kms!

Arrepios!

Uma cega sinistra.

Hoje eu sei: a cega foi a pessoa que mais enxergava que eu conheci em toda a minha vida.

Eu, com meus dois olhos vivos, fui o cego absoluto - o cego que não enxergou a surrealista visão da cega.

Os dois olhos dos meus olhos estão brancos.

Arrepios!
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TõeRoberto-post in férias por aí/br

música: Variada
publicado por Antonio Medeiro às 05:00
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