Textos Escolhidos

 

Estive pensando: o que seria de nós se não existisse o espelho?

O espelho não serve só para pentearmos os cabelos, escovarmos os dentes e fazermos a barba, entre outras coisas.

É, também, a nossa consciência.

Humor, dor, perspectiva, preocupação, tristeza, choro, riso, euforia, decepção, raiva, ira, alegria: está tudo lá.

No espelho podemos chamar a nossa atenção. Podemos nos punir. Podemos ter uma conversa franca com a gente mesmo. É o único momento que ficamos cara a cara com esse ser complexo e único: o nós!

O espelho é, além de tudo, o nosso crítico mais feroz.

Quantas vezes você cometeu algum ato infame e depois ficou morrendo de vergonha na frente do espelho?

Quantas vezes você mostrou língua para você mesmo?

E o dedo?

Vai me dizer que você nunca se chamou de babaca na frente do espelho?

Nunca dançou pelado e riu de você mesmo?

Nunca ficou com a cara lambida?

E a autocrítica: Tô gordo! Tô velho! Tô feio! Tô acabado!

O espelho expõe a nossa vaidade.

Perdemos horas e horas na frente do espelho corrigindo as nossas imagens distorcidas.

O espelho, redundantemente, é o reflexo de nós mesmos.

O espelho acompanha o nosso envelhecimento, é um diário das mudanças dos nossos rostos.

É muito paciente, nos envelhece devagar e sem sustos.

Reflete, dia após dia, como se fosse um conta-gotas, as mudanças: uma ruga no rosto, hoje. Um cabelo branco, amanhã. Uma barba branca, depois de amanhã.

O espelho é mágico.

Em um só cabe a humanidade inteira e com uma verdade incontestável: ele não deixa resíduos dos rostos nele refletidos, o que o torna muito seguro para nele refletirmos, escondidos, a nossa solidão irrefletida.
.
(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in Jampa/PB

música: Esquinas - Djavan
publicado por Antonio Medeiro às 05:26