Textos Escolhidos
A Árvore da Ferradura faz parte do meu imaginário.
É coisa perdida nos longes da minha infância.
Casos de assombração: uma ferradura fixada numa árvore; um mineiro dado a histórias e... pronto!
A Árvore da Ferradura tornou-se a residência do diabo.
Por ela muitas noites eu passei, junto com meu pai e minha mãe, a caminho de casa, na roça.
Todas as vezes o mesmo assombro, o mesmo medo, o mesmo susto.
Anos depois, dediquei a ela um pequeno texto.
Assim:
O diabo aparecia embaixo da Árvore da Ferradura. Houve gente que viu e ficou branca de medo, tal a feiúra do bicho.
Os olhos de fogo, garras pontiagudas, chifres enormes, dentes muito brancos, compridos, que pingavam sangue.
Era lá na Árvore da Ferradura que todas as sextas-Feiras, à meia-noite, o danado aparecia.
Constâncio vinha da cidade no seu cavalo magro,trotão; sexta-feira, já perto da meia-noite.
Cabeça vazia, bêbado, cantarolava alegremente sem qualquer preocupação.
A Árvore da Ferradura já perto. O cavalo refugou e quis voltar. A espora sangrou as virilhas sem dó. O diabo no barranco, estancado.
Constâncio, mão na cintura, trinta e oito na mão, o grito:
- Lá vai fogo!
O diabo está quieto.
- Lá vai fogo!
O estampido encheu a noite. O diabo emborcou-se com a mão na barriga e, sem um gemido sequer, rolou mansamente do barranco na figura do compadre Gumercindo, muito dado a histórias de assombração.
Hoje, há muito tempo, a usina de açúcar e álcool arrancou, do imaginário dos mais velhos, a Árvore da Ferradura, suas histórias e a cruz do compadre Gumercindo.
O diabo foi obrigado a transferir a sua residência para outra freguesia.
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(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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