Textos Escolhidos

 

Lendo Cem Anos de Solidão me veio à memória meu antigo professor de matemática.

Não entendi o porquê, mas acho que por ser muito parecido com personagens do realismo mágico, da literatura latino-americana.

Dr. João!

Figura classuda, sisudo, justo, cabelos prateados, seu eterno terno de linho cinza-claro e seu humor irrepreensível.

"Seu Medeiros! - profetizava - o sr. nunca vai ser nada na vida!", ao entregar a minha prova, sempre de notinhas baixas.

Que vergonha!

"Seu Torquato - irônico - guarde o membrinho para brincar em casa!" Para o menino Torquato que mexia no piu-piu lá no fundo da sala.

"Quem foi?" - se passando por bravo - depois de levar uma bolada de papel grudado com cuspe bem no meio das costas. O menino Gueigue saindo da sala de mansinho.

"Ah, seu Salomão, não ameace o seu Medeiros para que ele lhe passe cola! Ele também não sabe!"

"Hoje, para fazer a prova, podem colar. Abram os livros!"

Ô tristeza! Era notinha baixa na certa!

O terno sempre cheio de picão. Andávamos com os bolsos cheios e ele era nossa vítima preferida. Via e fingia que não via.

Uma figura para se lembrar.

Os alto-falantes do pátio do colégio:

"Siempre que te pregunto/que cuando, como e donde/tu siempre me respondes/quizás, quizás, quizás..."

Havia, naquela época, um romance no ar.

Em março de 64, o romance e a música saem do ar.

Os coturnos e o toque de recolher entram nos pátios e nos alto-falantes das escolas.

Carregava isto comigo, precisava contar.

Só para relembrar aquele tempo que - espero - não volta nunca mais!
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(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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música: Quizás, Quizás, Quizás - Lucho Gatica&Pery Ribeiro
publicado por Antonio Medeiro às 05:40