Textos Escolhidos

 

Eu vi!

Tá aqui na memória!

Rua Direita, São Paulo, 04:30 da manhã; garoinha paulista, fina - fria!

Rua deserta, molhada; as luzes refletidas no chão - silêncio!

Eu, solitário, apreensivo, caminhando para o metrô; somente o som seco dos meus passos, na rua.

Tac! Tac! Tac! Tac!: o som dos passos na noite.

No sentido oposto, cena inusitada.

No espanto do momento pensei em máquina fotográfica, mas, hoje, cheguei à conclusão: a melhor foto é a que fica na memória; podemos mudá-la, pela vida afora, de acordo com nossa conveniência.

Ela, na nossa memória, não envelhece nunca como acontece com as fotos da kodak.

No sentido oposto vi dois policiais conduzindo um bêbado: cada um deles segurando firmemente um dos braços do coitado.

O policial da esquerda segurava o braço esquerdo do personagem com a mão direita e levava na mão esquerda... acreditem!, uma garrafa de cachaça Tatuzinho.

O policial da direita segurava o braço direito do personagem com a mão esquerda e levava na mão direita... acreditem!, um Violão.

Cruzei com a cena surrealista em silêncio... eram tempos difíceis!

E quase que, absurdamente, só por ser poeta aplaudi, já que o momento me deixou com a sensibilidade à flor da pele.

Na rua: tac! tac! tac! tac! tac! tac!

Repressão, lazer e arte se fundiam no reflexo molhado da melancolia da Rua Direita e suas luzes indiferentes.

Eu vi!

E me deu uma saudade danada de Chaplin!
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(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in Jampa/PB
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música: Ronda - Tânia Alves
publicado por Antonio Medeiro às 04:54