Textos Escolhidos

 

Eu vi, aconteceu na minha frente!

Praça, Recife - meio-dia; sol cozinhando os miolos.

Camelô e o filho vendendo frutas.

Chega um sujeito vestido de branco, aponta uma jaca enorme, no chão, e pergunta o preço.

O camelô: 5 real!

O sujeito: tá vendo aquela clínica ali? - aponta uma casa com uma placa: Fisioterapia. Daqui a uns 10 minutos tu manda o moleque levar a jaca até lá. Ah, e manda troco pra 20 que eu não tenho trocado!

Saiu e se dirigiu à clínica.

Sol ardido, o moleque com a jaca na cabeça vai para a clínica. Chegando lá o sujeito o encontra na varanda e diz: bota a jaca aí no chão, me dá o dinheiro que eu vou pegar o troco. Espera aí que já volto!

O moleque entrega o dinheiro, o sujeito entra na clínica.

10 minutos depois: nada do sujeito... nem do troco.

O moleque entra na clínica e pergunta pelo sujeito à recepcionista.

Recepcionista: médico?, aqui não entrou médico nenhum! É horário de almoço! Tá todo mundo almoçando!

(...)

Sol derretendo o asfalto, lá vem o moleque com a jaca na cabeça.

Pai: tu voltô com a jaca? Cadê o dinheiro, moleque?

(...)

Pai: cadê o dinheiro, infeliz!

(...)

Pai - dando um cascudo na cabeça do moleque:  ô barriga ruim tem a tua mãe! Como é que alguém vai parir uma coisa burra que nem tu?

Eu vi!

E cheguei à conclusão: a miséria é autofágica!

.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in Jampa/PB

.

música: Feira de Mangaio - Clara Nunes
publicado por Antonio Medeiro às 04:37