Textos Escolhidos
Minha filha e meu genro postiços (eu os chamo de postiços porque ela é filha de minha mulher) passaram as férias na nossa casa.
Paulistanos da nata, são duas figuras extremamente interessantes:vivos, alegres, bem-humorados e puxando um pouquinho o saco: gente boa mesmo!
Adoram o nordeste: história, sol, praias, paisagens, gastronomia.
São incansáveis em relação a isto.
Um de nossos passeios - Bahia da Traição - lugar lindíssimo: ao entrarmos na vila meu genro postiço observou: "que tédio tem este lugar!"
Parei, prestei atenção e concluí: que tédio tem este lugar!
10 horas da manhã, ninguém na rua!
A gente passava pra lá: um moleque coçando a pereba; uma mulher, na janela, com a mão no rosto; um homem pitando um cigarro.
A gente passava pra cá: o moleque coçando a pereba; a mulher, na janela, com a mão no rosto; o homem pitando um cigarro.
Assim mesmo!, fora os que não faziam nada.
Então brinquei com meu genro postiço: É!, tu em São Paulo tem uma bela vida de idiota e este povo aqui tem uma idiota de vida bela.
Rimos!
Foram embora; eu, com saudades, pensei:
Por que perdemos nossa identidade com a paz?
Por que temos que correr?
Por que tudo tem que ser para ontem?
Por que a paz é tão entediante?
Não somos mais produtivos na paz do que na guerra?
Enfim, é um assunto comprido pra se tratar aqui, mas acho que a sensação de tédio das pessoas das cidades tem tudo a ver com o monstro moderno que as escraviza: o consumismo.
Disse Drummond: "no elevador eu penso na roça, na roça penso no elevador."
E, repetindo o poeta maior - tanto quando estou em são Paulo ou na Bahia da Traição - só tenho uma coisa a dizer:
"ETA VIDA BESTA, MEU DEUS!"
.
(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in Jampa/PB
.