Sempre fui pássaro. Adoro voar. Detesto levantar voo.

Levantar voo me lembra lágrimas, tristezas, fugas, adeuses... para nunca mais!

Gosto da essência do voo: planar nas nuvens, a paz infinita, o azul-celeste interminável... a imensidão da vida.

Mas voar é um desejo triste. Voar é a contradição absoluta da vontade humana.

Animal da terra, o ser se enraíza. Raízes o prendem ao chão e o impedem de voar.

O ar não enlaça raízes. Os pássaros somos seres imponentes.

Pequeninos que sejamos remetemos o ser à inveja e à esperança, à culpa e à absolvição.

Não tenho remorsos: pássaro nasci, pássaro exerço o meu dom nas tardes iluminadas.

Meu plano de voo é o voo: e eu o realizo com maestria e encantamento sobrevoando o infinito da liberdade sonhada.

Eu voo, mas voar não é atitude fácil: demanda abandono e despojamento. Voo porque nasci pássaro.

Mas o mundo é enraizado. O mundo não admite voos. O mundo não gosta de pássaros.

Sempre me cuido nos voos rasantes. São extremamente perigosos!

Deles podem advir as quedas, os enraizamentos intrínsecos - a reeducação formal.

O contato humano é inevitável.

Semana que vem posso estar na gaiola do prefeito.

Na outra, o gato!!!
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TõeRoberto-post in férias por aí/br

música: Variada
publicado por Antonio Medeiro às 05:00