O Pássaro estava lá no alto, planando; pipa de menino que sonha um dia ter asas.

Majestoso, enorme, imponente; quase que parado no ar sobre a praia do Tambaú.

Observava.

Com sua magnitude me observava.

Eu também o observava.

Um acompanhava o outro: ele, com as asas; eu, com minhas raízes.

Observei que a única diferença entre mim e ele, além da sua beleza, do seu senso de liberdade e da sua leveza era a certeza de que todos os horizontes do mundo são os seus alvos.

Aqui embaixo mal vejo os horizontes e tenho a minha vida presa às questões menores que nada têm a ver com beleza, liberdade, leveza e muito menos com certeza em relação a alguma coisa.

Ele, em sua plenitude, é apenas um Pássaro; eu, na minha pequenez, sou apenas um homem... um Pássaro ao contrário.

Nasci com o dom das asas, mas os pesos da vida plantaram os meus pés no chão e as raízes nasceram.

As asas enfraqueceram e hoje construo máquinas para voar.

E íamos pela praia.

No que pensaria o Pássaro?

Creio que só me admirava tomado de profunda compaixão.

Um ser tão iluminado deve ser capaz de humana humanidade.

Eu o observava.

De repente acho que ele se cansou de mim.

Acho que percebeu que eu não valia a pena.

Voou mais baixo, me encarou e num voo rápido, rasante, disparou como uma flecha rumo ao horizonte azul do mar de João Pessoa.

Eu fiquei ali parado, frustrado, com dó de mim mesmo.

Fiquei olhando sua trajetória até que ele rasgou a parede do horizonte e desapareceu no meio da grandeza do mar.

Ali sozinho, senti como sou nada diante da grandeza infinita das criaturas aladas.

Das criaturas livres!

Dos seres maiores!

publicado por Antonio Medeiro às 08:53