Poemas Escolhidos

 

Não serei eu na certa aquele que estancará
teu sangue
nem terá o nome universalizado
estátua em praça pública
o nome batizando rua.

 

Não serei eu também aquele que dominará os mares
com caravelas de aço, canhões atômicos
na proa
nem serei eu tampouco aquele que trairá e te fará
caminhar na prancha
rumo aos dentes vorazes do tubarão.

 

Acima de tudo sei que não serei nada mas
que serei eu
quem haverão de consagrar numa história de criança
à beira da fogueira dos meus avós
à beira do berço dos meus netos
porque aquilo que anda, pensa, respira, vive
e é individual
tem o seu valor metafísico no seu modo de ser
sem ser
no seu modo de não ser e ser.

 

E eu sei que sou alguma coisa que sempre existirá
e se fará existir apesar de todas as reinantes
contradições
e se fará conhecer apesar de todo o angustiante
anonimato
e se fará ressuscitar dessa antiga morte
no fundo das cavernas do medo
porque acima de todos os materialismos existe o eu
acima de todo o desafio dos meus bichos inimigos
existe o eu
acima de todos existo eu
e eu acontecerei para o mundo
mesmo não sendo nada acontecerei
porque o meu valor é algo inatingível
o meu mistério é o fim de todas as procuras
o meu lirismo é o supremo porvir da criatura.

 

E eu acontecerei
com toda a força que me negaram
com toda a chance que me roubaram
com toda a imbecilidade que me cerca
porque eu não sou lindo diante do espelho
mas sou bonito pelas noites de meditação
por isto sou e trago em mim
como a mais antiga herança
como a mais antiga vingança
como a mais antiga marca de fogo
na pele do animal.

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(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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música: La Mia Vita - Adamo
publicado por Antonio Medeiro às 03:19